segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Gal é linda é doce cantando encanta.



"Contrariada, a doce bárbara de outras épocas na MPB partiu para uma abordagem meio sociológica e meio senhora de engenho do antigo Recôncavo Baiano"

Vitor Hugo Soares

De Salvador (BA)





"Laroyê, Mojubá!". Direto da Bahia, abro as linhas deste artigo semanal com uma saudação a Exu, para anunciar que a temporada de verão 2011 começou por aqui do jeito que mais gosta o orixá brincalhão e polemista dos cultos afro-brasileiros - do candomblé principalmente. O pau está quebrando - na defesa e no ataque - em relação ao mais novo bafafá que se alastra de Salvador para o resto do País, e, desta vez, nem o ex-presidente Lula nem o cantor e compositor Caetano Veloso, podem ser responsabilizados de nada.



Na verdade depois de entregar a faixa à presidenta Dilma, Lula ainda não passou por estas bandas nordestinas, embora tenha prometido o que deve acontecer provavelmente no Carnaval. O santamarense Caetano Veloso também ainda não soltou o verbo na praia do Porto da Barra e adjacências (como costuma fazer sempre nesta fase do ano), mas o bafafá que promete tomar conta do Verão-2011 já corre mundo afora.



Exu não dorme no ponto quando o assunto é criar uma boa confusão. O orixá festejado por Jorge Amado e escolhido para guardar a área em torno da Fundação que leva o nome do escritor baiano no Pelourinho - um dos pontos mais visitados por turistas na capital baiana - se encarregou de mandar Gal Costa e assim não deixar ninguém na mão, em tempo de jornalismo sonolento e de poucas notícias, salvo as ruins - também anuais no Brasil de norte a sul - como as da tragédia da região serrana do Rio, onde o número de mortos já beira os 800 nesta sexta-feira em que escrevo.



Quem sabe dos cultos de santo por aqui, não tem dúvida: só pode mesmo ser coisa dos exus, esses chefes de terreiros, "lixeiros alegres que passam pelas ruas recolhendo todas as 'sujeiras'. Vêm com brincadeiras e algazarras, mas fazem um trabalho enorme em benefício da sociedade, que diga-se de passagem é muito pouco reconhecido", como assinala um especialista em Guia sobre cultos afro-brasileiros na web (http://www.guia.heu.nom.br).



Vejam o caso e tirem vocês as próprias conclusões:



A cantora Gal Costa, que em geral vive calada e só gosta de falar através das letras das canções que interpreta (quase sempre maravilhosamente), decidiu soltar o verbo esta semana, ao ver dar tudo errado nas obras de reforma de sua casa em Salvador e nas relações trabalhistas com o operário da terra encarregado da execução.



Contrariada, a doce bárbara de outras épocas na MPB partiu para uma abordagem meio sociológica "meio senhora de engenho do antigo Recôncavo Baiano" (o achado da frase é de um querido amigo jornalista cujo nome evito citar por falta de autorização e por não querer jogar mais lenha na fogueira) via Web - ou seja, para a Bahia, o Brasil e o planeta - de tema recorrente em tempo fraco de notícias, mas sempre muito delicado em qualquer época: a preguiça dos baianos.



Na verdade, o operário queixou-se de uma forte dor de cabeça que o impedia de concluir no dia e prazo combinados entre as partes a instalação do aparelho de ar condicionado na casa da cantora. Seguramente também sob o efeito do forte calor que faz estes dias na capital baiana, a mana e conterrânea Gal desabafou na mensagem postada em seu endereço no Twitter:



"Como na Bahia as pessoas são preguiçosas! Técnico do ar-condicionado ñ pode terminar o trabalho pq está com dor de cabeça. Essa é a Bahia!!!", reclamou, no impulso. "Ela costuma tuitar a partir de um iPhone", contou a revista digital Terra Magazine na matéria assinada pelos repórteres Claudio Leal (baiano) e Dayanne Sousa, em suite jornalística do assunto que então já pegava fogo na Bahia e se alastrava país afora, via Internet.



Foi o toque dos exus que faltava no caso. Na quarta-feira à noite, pouco tempo depois de postado palpite infeliz, a cantora já havia arrebatado mais de 39 mil seguidores no Twitter. Muitos deles fãs que a acompanhavam e que se consideraram ofendidos também com a pecha de "preguiçosos", lançada por Gal na briga com o técnico de ar condicionado. Não faltaram acusações de preconceito e até "racismo" jogadas sobre a cabeça da doce bárbara.



Espantada com a repercussão inesperada, Gal tentou dar tudo por encerrado, como governantes e velhos políticos quado se vêem diante de fatos e situações incômodas e embaraçosas, mas sem desistir da tese desatrosa, certamente com Exu ainda soprando em seu ouvido: "Ñ é racismo meu filho, é REALIDADE!!!!". "Tem gente mais preguiçosa em cidades q tem mar", teorizou a cantora, ressaltando no tuiter que também morou 23 anos no Rio de Janeiro e tem autoridade para falar.



Aí todos os raios e trovões e até algumas flechas de São Sebastião desabaram de vez sobre a cabeça e o peito de Gal, a quem parece só ter restado como alternativa a fuga em desabalada: "Gente, chega! Acabou o assunto da preguiça. Ñ se pode falar nada aqui q tudo vira polemica. Sou baiana e falo pq posso. Vou sair. Tchau", postou a cantora, ao anunciar que estava deixando o microblog na quarta-feira (19) mesmo. Depois sumiu.



Na fuga apressada, nem lembrou dos versos da antológica música "Vaca Profana", que Caetano Velosos escreveu para ela e que Gal interpreta divinamente, como ninguém:



"Respeito muito minhas lágrimas/ Mas ainda mais minha risada/ Inscrevo, assim, minhas palavras/ Na voz de uma mulher sagrada/Vaca profana, põe teus cornos/ Pra fora e acima da manada/Ê, ê, ê, ê, ê,/Dona das divinas tetas/ Derrama o leite bom na minha cara/E o leite mau na cara dos caretas".



Entrevistado em São Paulo pela Terra Magazine sobre a polêmica que abre mais uma temporada de verão na Bahia e no País, o compositor Tom Zé, conterrâneo de Gal Costa, ladino como um exu de Jorge Amado, "preferiu ser telegráfico ao analisar a tormenta vivida pela cantora baiana, no Twitter, desde que atacou a "preguiça baiana":



- Gal está aprendendo a lidar com os códigos da comunicação de massa, é isso - diagnosticou Tom Zé.



Exu é pouco!









Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site-blog Bahia em Pauta ( http://bahiaempauta.com.br/).





Fale com Vitor Hugo Soares: vitor_soares1@terra.com.br





TELA DA REFLEXÃO


Gal é um sonho cantando, é doce, é expressiva, uma ternura sem fim. E a senhora do canto já teve uma voz de falsete, que iluminava o céu com o seu canto.

Fora disto somos fãs, de carteirinha desta menina, com jeito de sapeca, mas que aprendeu a encantar cantando.

Quanto a idéia, do ilustre jornalista, que fala que ela teve, jeito de senhora de engenho. Ah, digamos que o Brasil, está cheio de dono de escravo pensando que é governante, deputado,  empresário, pode ver que ninguém gosta muito de contribuir com os seguros sociais, de quem manter o labor cotidiano no País todo.

Paga até miséria como salário aprovado no Congresso, mas que sabe isto não pra viver, é uma questão social, moral, ética de respeito que ninguém tem. E os jornais também não falam, pertencem ao sistema de exploradores e de explorados ou seja o sistema capitalista é que mantem uma ideologia estupida.

Quanto a Gal, é o meu sonho, adoro ouvi-la, e que a ternura de Oxum mantenha -se em seu canto.





Manoel Messias Pereira
professor de História.







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