sábado, 15 de outubro de 2011

Primeira Juiza Negra do Brasil participa de debate na Flica na Bahia

Luislinda Valouis
Juiza




Primeira juíza negra do Brasil participa de debate da Flica, na Bahia

História e negritude foram debatidas na primeira mesa desta sexta-feira.



Lílian Marques



Debatedores criticaram propaganda com Machado de

Assis branco (Foto: Ingrid Machado/ G1 BA)História e negritude foram os assuntos debatidos na primeira mesa desta sexta-feira (14) na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no Recôncavo Baiano. Mediada pelo diretor teatral e ex-secretário de Cultura da Bahia, Márcio Meireles, a discussão foi realizada entre a primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valouis, a escritora mineira Ana Maria Gonçalves, autora do premiado livro “Um Defeito de Cor”, e pelo escritor, historiador e doutor em comunicação, Joel Rufino dos Santos.



A mesa começou com a provocação de Meireles sobre a negação do negro sobre si mesmo. Antes de começar a falar, a juíza Valouis pediu licença ao público para agradecer a Iansã, sua orixá. Em seguida, começou o debate em defesa do negro. “Como brasileira, como negra, um dos temas que mais me empolgam é falar sobre a negritude para abrir a cabeça dos brasileiros. É um povo que colabora até hoje para o crescimento do desenvolvimento socioeconômico do país”, observou.



A primeira juíza negra do Brasil destacou que ainda hoje o negro está em segundo plano em vários aspectos da sociedade brasileira. Ela aponta que no Carnaval da Bahia, por exemplo, as mulheres negras são chamadas para danças e os homens para tocar tambor em camarotes, não para fazer parte da festa. Luislinda defendeu a política das cotas para negros no país e a entrada dos negros em cargos de chefia, como governo de estados, prefeitura, ministérios e a presidência do Brasil. "Anotem: antes de eu morrer ainda vou ver muito negro 'comandante' na Bahia. Advogo desta forma porque a inteligência não é privilégio de nenhuma raça, é do humano. Faltam oportunidades”, disse.



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‘Branco tem carta, negro tem cota’, diz Valouis, 1ª juíza negra do país 'Conheci criança de rua com Capitães da Areia', diz escritora mineira na Flica O público interferiu bastante no primeiro debate através de questionamentos escritos, entregues ao mediador Márcio Meireles. Os três debatedores foram muito aplaudidos durante toda a mesa. Uma das provocações da plateia foi sobre os jogadores negros que atuam na França, mas não são nascidos no país, que se recusam a cantar o hino local durante os jogos. De imediato a escritora mineira Ana Maria Gonçalves puxou uma nova discussão. “Eles [os jogadores negros] não são aceitos pela sociedade francesa. Não cantar o hino deles é uma forma de protesto e tem que ser mesmo porque é o país onde eles não são aceitos como sociedade”, disse. “Os brasileiros também não cantam o hino nacional, eles mexem a boca”, emendou Luislinda.



O historiador Joel Rufino observou que é necessário cautela para a ocupação de cargos de chefia por negros. "Querer negros nessas posições é bom, mas vamos tomar cuidado quanto às ilusões. Sempre que o negro se mistura com o branco tende a se dar mal, porque o poder está com o outro. Esse poder eu não quero. A escravidão está sendo processada de uma outra maneira. O negro continua sendo objeto”, pontuou. Luislinda Valouis discordou da colocação de Rufino e rebateu: “Se o poder é bom, eu também quero a minha cota”, completou.



O conceito de escravidão, a afirmação e negação do ser negro e as ideias de racismo e racialismo também foram debatidos na mesa. Os três criticaram também a veiculação de um comercial em que o escritor Machado de Assis aparece branco. “Ele era negro, filho de escravos. Acho que a agência, a produtora e a gerência de marketing não fizeram pesquisa”, disse Ana Maria. Luislinda discordou mais uma vez. “Fizeram sim e mesmo assim veicularam porque era conveniente para eles”, pontuou.



Ao final do debate, os participantes receberam o público na livraria LDM, localizada ao lado das mesas no Conjunto do Carmo. Joel Rufino distribuiu alguns exemplares do livro “A Questão do Negro na Sala de Aula” para a plateia. A última obra publicada do historiador é “Bichos da Terra Tão Pequenos”. Ana Maria Gonçalves foi premiada no Casa de Las Américas pelo livro “Um Defeito de Cor”. Luislinda Valouis tem publicado o livro “O Negro no Século XXI” (Juruá).



Ainda nesta sexta-feira, o bacharel em Direito e Ciências Sociais, escritor e compositor popular, Nei Lopes, apresenta a mesa “Letras e Tretas: O samba na realidade e na ficção de Nei Lopes”, às 15h. À noite, às 19h, ele divide as discussões do debate “Contexto Racial nas Américas” com o escritor Rodrigo Constantino e com a doutora em Comunicação Liv Sovik. Os dois assistiram ao debate sobre História e Negritude na manhã desta sexta. Quem encerra a programação oficial da festa é o Samba Suerdick, eleito pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade. O grupo composto por cachoeiranos se apresenta às 22h no palco Cachoeira, na orla da cidade.






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Manoel Messias Pereira

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