sábado, 23 de março de 2013

Os Movimentos sociais e Educação na Sociedade Brasileira




por Fernando José Candele


Capa do livro
Fernando José Cantele, 2013
Sobre o autor *

Resenha

GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Educação. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2012. (Coleção questões da nossa época: v. 37). 128 p. ISBN 978-85-249-1879-7.

Este livro reconstrói um momento crucial dos movimentos sociais no Brasil, destaca algumas lutas no campo da educação, fornece elementos conceituais e metodológicos para a análise de conjuntura no campo do associativismo civil, assim como indica caminhos para se qualificar os tipos de aprendizagens e saberes que estão sendo construídos. (GOHN, 2012).

O livro Movimentos Sociais e Educação, publicado inicialmente em 1992 e agora em sua 8a edição (2012), ainda é atual porque trata de temas que acompanham as transformações da sociedade brasileira ao relacionar os movimentos sociais e a educação. No decorrer dos capítulos é possível ter conhecimento acerca da formação das primeiras organizações sociais, passando pela tumultuada década de 1980 e a atuação dos movimentos nesse período, chegando até o início dos anos 90.

Maria da Glória Gohn é doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP, 1983), com pós-doutoramento pela New School for Social Research de New York (EUA, 1996) e professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É pesquisadora do CNPq e autora de diversos livros que versam sobre o estudo dos movimentos sociais e a educação, possuindo ampla experiência nessas áreas. Atua também de forma significativa em conferências sobre os assuntos abordados no livro. Vale destacar, sobretudo, que alguns dos capítulos desse livro fizeram parte de aulas em cursos de pós-graduação em várias universidades brasileiras.

Inicialmente a autora aborda a questão histórica da relação dos movimentos sociais e a educação e seu elo em comum, que seria a cidadania. No primeiro capítulo é apresentado um pequeno histórico a respeito da concepção de cidadania, a partir da análise dos diversos períodos históricos. No liberalismo, apenas os proprietários (burgueses) possuíam direito à total liberdade e à cidadania, sendo que a classe trabalhadora não era vista como cidadã. A autora destaca também que, para o capitalismo, a cidadania serve como disciplina para com o social, assim a educação existe para manter o controle social. Atualmente a concepção clássica de cidadania, refere-se aos direitos e deveres do cidadão perante a sociedade, que devem ser conquistados, e não apenas concebidos. Num segundo momento, salienta-se a forma como é adquirido o caráter educativo dos movimentos sociais, nos quais, através da organização de pessoas que possuem os mesmos objetivos, busca-se formar uma consciência coletiva a respeito do processo reinvidicatório, já que procuram lutar por direitos comuns.

No segundo capítulo, a autora enfatiza as principais organizações populares que se formaram no Brasil - como as SABs (Sociedades Amigos de Bairros), Associações de Favelas e associações e movimentos comunitários - através de um levantamento de todo o processo histórico de formação e desenvolvimento no decorrer dos anos, destacando todas as dificuldades e conquistas que as organizações enfrentaram na luta por seus objetivos. Além disso, Gohn procura analisar as ideologias e sua ligação com cada setor da sociedade, bem como o envolvimento com as questões políticas e religiosas, que estão presentes nas lutas de cada uma dessas organizações populares.

No terceiro capítulo, são discutidas as formas de educação popular e sua importância para a sociedade, em que esse tipo de educação atua principalmente sobre as camadas populares, procurando construir os objetivos sociais de cada movimento. Discute-se também a produção de pesquisas dos intelectuais brasileiros na área da educação e das ciências sociais, no período compreendido entre a década de 50 e 90 do século passado, falando sobre suas influências e a visão da sociedade brasileira com relação ao estudo da sociedade. Por fim, são expostas as formas dos movimentos sociais com relação ao caráter educativo, que segundo a autora pode ocorrer das seguintes maneiras: através do aprendizado, que é gerado pela experiência de contato com fontes do exercício do poder; da repetição de ações rotineiras que a burocracia do Estado impõe; e através do contato com as assessorias contratadas pelos movimentos.

São apresentadas no quarto capítulo as diversas ações sociais realizadas no Brasil na década de 80 em relação à educação, seguidas de uma análise a respeito da situação de todos os problemas da sociedade brasileira nessa década. A partir disso são apresentadas cada uma dessas ações educacionais na sociedade e as ações por educação escolar, sendo que a autora discorre sobre suas características, bem como os seus objetivos da educação, em cada setor da sociedade.

No quinto capítulo, a autora passa a analisar o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP) e a sua participação com relação ao processo de elaboração da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dentro dessa análise, a autora discorre sobre o processo de origem do FNDEP e de seus objetivos, incluindo também uma análise acerca das instituições que fazem parte do Fórum, como os representantes dos estudantes, as organizações de classe trabalhadoras, representantes do ensino e pesquisa e de profissionais da área da educação. Apesar da importância das realizações do FNDEP, este não chegou a expandir a sua atuação em todos os ramos da sociedade, pois os seus trabalhos sempre foram desenvolvidos de forma individual pelos representantes das instituições que o compunham, assim a atuação era apenas realizada junto aos parlamentares.

No sexto capítulo, discute-se uma possível crise dos movimentos populares nos anos 90. A partir disso, a autora procura apresentar a atual situação dos movimentos no Brasil, sendo analisado todo o contexto da sociedade e principalmente os objetivos e características de cada movimento. Gohn chega a destacar que essa possível crise é apenas parcial, ou seja, ocorre em alguns setores de cada movimento, e que as origens e causas da crise estão presentes desde o início da formação de cada movimento.

O livro percorre as origens dos movimentos sociais no país, desde as primeiras formas de organização social que buscavam lutar por objetivos comuns em locais específicos da sociedade. Com isso, Gohn demonstra também como os movimentos ganharam destaque, evoluíram de forma gradual e chegaram a atingir todos os setores da sociedade, que procuravam lutar por objetivos mais abrangentes e comuns para toda a sociedade. Além disso, a obra ainda visa analisar as políticas governamentais em relação à educação, aos movimentos sociais e às relações existentes entre ambos.

Os movimentos sociais possuem uma importância única para a sociedade, devido às relações que ocorrem entre os indivíduos participantes e a luta por objetivos comuns, visando assim a conquista de seus direitos e a manutenção de seus deveres. Todos os movimentos possuem características educativas, devido às normas que necessitam ser seguidas e à estrutura de funcionamento, assim o processo educativo é construído por meio de experiências e do conhecimento sobre a atual situação (passado/presente) de cada organização. Dessa forma, ocorre a formação da mentalidade coletiva e a consciência de cidadania dos indivíduos que participam dos movimentos sociais.

* Bacharel e Licenciado em História pela Universidade do Contestado - UnC, Campus de Mafra/SC.






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Manoel Messias Pereira

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