A Letra e a Voz cada vez mais contemporâneo
Festival começa domingo (19/8) debatendo a obra de Nelson Rodrigues e a relação entre realidade e ficção
Publicado em 19/08/2012, às 06h14
Diogo Guedes
Onde começa a ficção e se encerra a realidade? Boa parte da produção literária de hoje trata da tensão entre esse dois polos. O limiar entre invenção e fatos, conceitos que não são tão opostos assim entre si, é o tema do Festival Recifense de Literatura a Letra e a Voz. O evento começa neste domingo (19/8) abordando as Fronteiras do real, mas as homenagens a Nelson Rodrigues, figura celebrada pela na 10ª edição do festival, não param na temática.
As menções a Nelson, serão de naturezas bem diversas. Além da presença da filha do autor, Maria Lúcia Rodrigues, que vem ao Recife para abrir a exposição sobre Nelson na Torre Malakoff, pesquisadores e nomes da cena teatral foram chamados para dar seus depoimentos. A primeira conversa é entre o dramaturgo Moisés Neto e o diretor João Denys, mas um dos melhores momentos do evento deve ser a fala do dramaturgo Newton Moreno na sexta, que deve contar sobre sua experiência como encenador de peças de Nelson.
No mesmo dia, o crítico literário Luís Augusto Fischer, especialista nas crônicas do autor, se encontra com o professor e pesquisador de teatro Luís Reis e a jornalista Ivana Moura. José Miguel Wisnik também deve tocar em um tema rodriguiano: o futebol, essa paixão do dramaturgo pernambucano, assunto do seu livro Veneno remédio.
O festival ainda organiza a mostra 100 Nelson, com mesa sobre as adaptações cinematográficas do autor e exibição, no Cinema da Fundação, do filme Os sete gatinhos, com argumento de Nelson e roteiro e direção de Neville D’Almeida.
INTERNACIONAL
A grande atração é a vinda de um nome internacional, o escritor argentino Alan Pauls. Se ele não é tão conhecido do grande público – na verdade, raros escritores hoje são –, sem dúvida é um autor no perfil festival: contemporâneo e provocativo. Sua principal obra, O passado, já ganhou as telas de cinema, adaptada por Hector Babenco, com Gael García Bernal no elenco. Mas, é a partir da trilogia de livros sobre o período da ditadura argentina – sempre com um toque de ironia – que vem construindo seu projeto literário. No Brasil, já saíram pela Cosac Naify História do pranto e História do cabelo, que reconstroem a vida paralela daquela época por meio de pequenas obsessões.
Na coletiva de apresentação do evento, Carolina Leão, organizadora do evento, já falado um pouco do desafio do recorte do contemporâneo. A solução, encontrada junto ao curador literário Schneider Carpeggiani, foi propor mesas que trouxessem desafios, trazendo bons autores da atualidade, como Paulo Henriques Britto, Rubens Figueiredo, Paulo Roberto Pires, Ronaldo Correia de Brito e Manuel da Costa Pinto. Os poetas Fernando Monteiro e Lucila Nogueira, por exemplo, debatem o espaço da poesia dentro do mercado editorial de hoje.
A Balada Literária, que ganha sua primeira edição no Recife (na verdade, como define o seu organizador, Marcelino Freire, é apenas uma “pré-Balada”), traz de fora o escritor gaúcho Paulo Scott e o músico também gaúcho Flávio Santos. A ideia de Marcelino é fazer uma festa em que o mais importante não são as credenciais, devendo reunir também Jomard Muniz de Britto, Miró e Wilson Freire. A Recitata, já parte tradicional do A Letra e a Voz, homenageia o poeta Edvaldo Bronzeado.
Jornal do Commercio de domingo (19/8).
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