segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Alunos da comunidade de São Francisco do Caramuri, na Tríplice fronteira entre Manaus, Itacoatiara e Rio Preto da Eva, estudam por esforço próprio









Alunos da comunidade de São Francisco do Caramuri, na tríplice fronteira entre Manaus, Itacoatiara e Rio Preto da Eva, estudam por esforço próprio.



Na sala de aula, dividida entre alunos do 1º e 5º ano, dois ventiladores amenizam o calor; ao fundo, a biblioteca (Odair Leal)



“Não acho que é pedir muito uma escola mais digna ao meu filho. É direito de todos ter acesso a uma educação adequada”. O desabafo de Ariana Martins de Lima, 27, não é isolado. Mais dezenas de pais e mães da comunidade de São Francisco do Caramuri, localizada entre os municípios de Manaus e Rio Preto da Eva, lamentam o esquecimento do poder público. Há mais de dois anos a localidade, que pertence à zona rural de Manaus, não vê investimentos na área da educação e da saúde.



É num casebre de madeira, já comprometida pelo tempo sem manutenção, num espaço apertado, com pouca ventilação, carteiras danificadas e sem banheiro, que 25 alunos tentam se alfabetizar na comunidade. O local só possui energia elétrica porque há cerca de três semanas a comunidade foi contemplada pelo programa do Governo Federal “Luz Para Todos”. A comunidade, inclusive, chegou a doar um terreno para a construção de uma nova unidade de ensino.



Na Escola Municipal Luiz Alberto Castelo, crianças com idades entre 6 e 12 anos dividem a atenção da mesma professora.



A falta de professores e a infraestrutura precária permite que a escola funcione somente no período da manhã. Ao mesmo tempo, é preciso repassar conteúdos do 1º ao 5º ano. Os livros ficam amontoados em duas estantes que improvisam uma biblioteca. A professora, que prefere não ter o nome divulgado, também acaba fazendo o trabalho administrativo. Apenas uma parede de madeira separa a sala de aula da cozinha onde são feitas as refeições dos alunos. “Isso atrapalha na hora de aprender”, desabafa a pequena Franciele Nascimento, 7.



O desejo de Pedro Henrique da Silva, 11, é poder brincar numa quadra de esportes durante a aula de educação física, que não tem na grade curricular desses alunos. Apenas dois playgrounds, entregues recentemente, fazem parte do momento de recreação do alunos. Mas, se pudesse ter mais um pedido atendido, Pedro Henrique também gostaria que a escola tivesse ar-condicionado.



Apenas dois ventiladores aliviam o calor que os alunos enfrentam na sala de aula. Os moradores se preocupam com o pouco tempo que a única escola da comunidade pode resistir. São Francisco do Caramuri está situada à margem direita do baixo Rio Preto da Eva. No período da cheia, a escola quase foi alagada, mesmo localizada na beira de um barranco. “Desde que foi construída em 2003, a escola só recebeu manutenção uma vez, em meados de 2008. Mas só pintaram e trocaram algumas tábuas”, relatou o agricultor Pedro Leandro da Silva, 42, que tem dois filhos que estudando no local.



Desde janeiro a lancha escolar, cedida pelo Ministério da Educação (MEC) em junho do ano passado, e que deveria receber assistência da prefeitura, está parada, devido a problemas técnicos. “Não mandam ninguém consertar. O transporte das crianças está sendo feito nas ‘rabetas’ dos moradores”, contou a moradora Sandra da Silva de Lima, 32.



Pedido desde 2010



Escola Municipal Luiz Alberto Castelo foi contruída em um barranco e quase ficou alagada com a cheia deste ano. (Foto: Odair Leal).









O único banheiro da Escola Municipal Luiz Alberto Castelo fica quase cinco metros distante da sala de aula, na área externa. O pior problema, porém, é a falta de um sistema de tratamento de esgoto. “Os alunos de Caramuri sofrem um descaso. Quando chove, a situação fica bem pior”, relatou o vice-presidente da associação dos moradores, Edimar Messias Barbosa de Lima, 38.



Desde março de 2010, a comunidade reivindica a construção de nova escola. Um ofício encaminhado para a Secretaria Municipal de Educação (Semed), datado em 30 de março de 2010, junto a um abaixo-assinado com mais de 90 assinaturas, pedia um novo prédio escolar. Também foram enviadas diversas fotos para mostrar a situação precária do local. Na época, moradores precisavam buscar a merenda dos alunos de Caramuri na Vila do Engenho, no município de Itacoatiara, distante a mais de uma hora da comunidade. Sem resposta, a comunidade enviou outro ofício à Semed, datado em 31 de agosto de 2011, pedindo novamente à Prefeitura de Manaus a construção de uma escola com mais salas, uma biblioteca, laboratório de informática, refeitório, banheiros e poço artesiano.



Promessa



Num ofício enviado pelo secretário municipal de Educação Mauro Lippi, ao secretário municipal de Infraestrutura Américo Gorayeb, datado em 17 de fevereiro deste ano, foi informada uma relação de escolas municipais que ainda não tinham sido reformadas, bem como a relação das escolas que deveriam ser construídas em substituição às escolas próprias. Na relação constava a Escola Municipal Luiz Alberto Castelo entre as unidades que deveriam ser substituídas por novas. No documento, a nova escola teria seis salas de aula, diretoria, secretaria, dois alojamentos para professores, um depósito para merenda, um depósito material de limpeza, um depósito para motor de luz, um depósito para combustível e banheiros para adultos e crianças.



Uma cópia do documento foi entregue à comunidade que reclama que as promessas não saíram do papel. “Eles sempre falam que vão construir, mas não vemos nada ser feito”, disse o vice-presidente da associação dos moradores, Edimar Messias Barbosa de Lima, 38.



Trâmite



A Secretaria Municipal de Educação (Semed) informou, na sexta-feira, que “já realizou a licitação para possibilitar as obras de reparo e ampliação na referida escola” e que “no momento, está sendo feito trâmite administrativo para a assinatura do contrato e, após este procedimento, as obras na escola serão iniciadas”.



Na caixa



A Escola Municipal Luiz Alberto Castelo chegou a receber sete computadores para sala de informática que deveria existir. Entretanto, há mais de seis meses, eles permanecem dentro das caixas, guardados em um pequeno depósito. “Não tem condições de instalá-los. Eles deveriam servir como mais uma ferramenta de aprendizado para as crianças. Talvez nem funcionem mais porque não estão sendo usados”, lamentou Edimar Messias Barbosa de Lima, 38, vice-presidente da associação dos moradores.



Localização



A comunidade de São Francisco do Caramuri foi fundada em 1995 com a chegada de novas famílias na localidade. Atualmente, 35 famílias moram no local, o que soma aproximadamente 170 pessoas. A comunidade está localizada na altura do km 133 da rodovia AM-010 ( entre Manaus e Itacoatiara).

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Manoel Messias Pereira

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