sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Gilberto Freire a 80 anos lançava o livro a (Re)invenção do Brasil

 Gilberto Freyre e a (re)invenção do BrasilHá 80 anos, o pernambucano Gilberto Freyre lançava Casa-grande & Senzala, livro que descortinou nossa formação patriarcal e propôs uma nova interpretação para o Brasi

 Alan Santiagoalan@opovo.com.br
A.PIROZZELLI/FOLHAPRESS


Gilberto Freyre durante palestra em São Paulo no início dos anos 80: singularidades das relações raciais brasileiras
HENRIQUE ARAÚJO
Rolezinho por 2013

Livro apontou desigualdades e injustiças do modelo patriarcal
 
O que é ser brasileiro? Essa dúvida martelava o pernambucano Gilberto Freyre até que, para solucioná-la, viveu o que chamou de “aventura do exílio” entre 1930 e 1932. Traçou um roteiro muito menos turístico que intelectual. Visitou a Bahia, a África, Portugal e finalmente os Estados Unidos.



No fim, produziu a resposta possível em cinco capítulos ou 517 páginas, pela editora Maia & Schmidt, do Rio de Janeiro. Era Casa-grande & Senzala, que saía publicado em 1933, há exatos 80 anos, estudando nosso passado patriarcal, escravocrata e agrário.


Não é difícil entender por que o livro - que participou num processo modernista mais amplo de revisão da linguagem, do ensino e das teorias científicas da época - se tornou capital para a cultura brasileira.


Freyre identificou os elementos que fizeram parte da formação de nossa sociedade. Com isso, deixou evidente que, construídos historicamente, eles são fundamentais para explicar nossa atualidade, cheia de impasses e contradições.


Um deles é a miscigenação. Contrário a teorias como a de Oliveira Vianna, que apostava no embranquecimento da população, Freyre destacava a mistura entre brancos portugueses, negros africanos e índios nativos como fator de enriquecimento cultural. Para ele, raça não era questão de biologia, mas de cultura.


E o negro acabava sendo o responsável por dar a liga social, “amolecendo” os contrastes das múltiplas raças por estar mais próximo dos senhores de engenho. Ali na casa-grande ia se construindo um pedaço de nossa civilização: o pai tinha filhos com as escravas negras; rebentos cuidados pelas negras como se fossem filhos; havia o que ele chamou de um catolicismo “adocicado”.


Democracia racial

As relações eram intrínsecas – e também violentas para os negros. Pois seu olhar benigno a esse panorama fez Gilberto Freyre contribuir para consolidar o mito de que nossa formação ajudou a gestar uma democracia racial.


Segundo a professora do departamento de Antropologia da USP, Lilia Moritz Schwarcz, um dos méritos de Freyre é mostrar a singularidade das relações raciais brasileiras, um país sem leis discriminatórias e onde a presença negra é considerada fundamental em várias manifestações artísticas.


“Mas o Brasil mantém graves índices de exclusão social, nos dados da justiça, nos dados de nascimento, de morte, de escolaridade. Raça ainda é um marcador social de diferença muito grande”, analisa. Freyre acaba, na avaliação de Schwarcz, desconsiderando a ambivalência de nosso racismo, que combina, de modo complexo, inclusão social com exclusão.


Ainda para ela, a partir dos anos 1970, por conta das políticas de ação afirmativas, a população passou a notar a importância de “desigualar para igualar”. “Não estamos mais naturalizando (a desigualdade). Estamos olhando de frente e pensando que a história é um destino que a gente faz”, destaca.


Primeira edição (1933)

Edição dos anos 80
Edição dos anos 2000

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Manoel Messias Pereira

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