Lê Sartre todas as tardes sentada no jardim. Sabe muito bem que a existência procede a essência. Arruma as flores. Folha seca, retira. Limpa os canteiros. Ataca os pichadores da praça. Cavalga com o pau de vassoura imaginando-se Joana D'Arc, sua heroína. Faz tempo não há sol.O cheiro do abrigo, cobertor rasgado, mofo. O café muito ralo, quase água. Aquele que era somente o seu canto, agora divide. Mas não pode ser com qualquer um, tem de filosofar. Mendigo-louco que não filosofa morre no asfalto. Tira do bolso puído da calça um pedaço de papel. Mostra com orgulho seu retrato no jornal. Virou tese. De doutorado!Às vezes passa batom. Sente-se mais mulher. Quando as ideias brotam da mente fértil, dá asas à imaginação. Da última vez desejou voar alto do tunel da 9 de julho. Dizem os crédulos amigos que obteve sucesso. No momento, pensa em tirar férias. Muito trabalho nos últimos meses. Está em dúvida. Marrakesh ou Bagdá?
Rogério Augusto
formado em letras e jornalismo
nascido em São Paulo
(Revista Cult n.48)
Rogério Augusto
formado em letras e jornalismo
nascido em São Paulo
(Revista Cult n.48)
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