sábado, 7 de dezembro de 2013

Israel não quer a Paz - texto do jornal Granma



Israel não quer a paz
• Há exatamente um ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas outorgou à Palestina a condição de “Estado observador não membro”. O jornal Granma entrevistou um dos líderes históricos dessa nação

DALIA GONZÁLEZ DELGADO

NAYEF Hawatmeh é um homem de ação e pensamento no movimento de resistência de seu povo. Considerado um dos referentes da esquerda na região do Levante, dirige a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), que fundou em 1969. Ele já publicou mais de 30 livros e outros artigos e advoga por uma saída negociada no conflito com Israel. De visita em Cuba, dialogou com nosso jornal sobre as possíveis soluções para um problema que parece não ter fim.

No mês de julho começaram as primeiras conversações de paz entre Israel e Palestina, em três anos, sob o auspício dos EUA. Por acaso o senhor considera que a solução do conflito pode conseguir-se em uma mesa de diálogos?

“Em Israel há um governo de extrema-direita que teima nas suas ações agressivas nos territórios palestinos ocupados; usurpando a terra na faixa de Gaza e Jerusalém árabe e construindo colônias na Cisjordânia. O governo de (o primeiro-ministro israelense, Benjamín) Netanyahu não é um governo de paz”.

“Estamos negociando há 21 anos sem nenhum resultado positivo. Estas negociações que iniciaram de novo no mês de julho se estão desenvolvendo sem base jurídica; por isso acho que vão caminhar rumo ao vazio. Nós chamamos ao fim dessas conversações e a estabelecer outras, sobre bases adequadas, que tenham como referente as resoluções das Nações Unidas. Em primeiro lugar, o reconhecimento da ONU, em 29 de novembro de 2012, do Estado Palestino com as fronteiras que tinha em 1967, com Jerusalém Leste como capital e a resolução 194 (de 1948) que promove o retorno dos refugiados. Além do mais, para que as negociações tenham sucesso devem cessar as ações de colonização de todos os territórios palestinos ocupados em 1967. As negociações atuais concluirão em abril de 2014, e até este minuto não há nenhuma esperança. Não esperamos que os EUA exerçam pressão para conseguir soluções políticas, porque a administração norte-americana está alinhada a Israel”.

Isso significa que para Israel mudar de atitude os Estados Unidos deveriam exercer pressão?

“Não creio que a administração norte-americana faça isso. É a Palestina que deve fazer isso. O governo israelense quer anexar Jerusalém completa, parte da Cisjordânia e manter sua presença ao longo da fronteira palestino-jordana, para torná-la fronteira israelense-jordana. Eles querem os territórios palestinos que estão nas mãos de Israel, querem continuar controlando o espaço aéreo e que o Estado palestino esteja totalmente desarmado. Essas exigências significam que Israel não quer a paz. Israel e as administrações norte-americanas têm impedido que se estabeleça o Estado Palestino, como recomenda a resolução 181 (de 1947) da Assembleia Geral, quando chamou a criar dois estados”.

Então, se Israel não tem intenções de conseguir um acordo de paz agora, por que se sentou na mesa de diálogos?

“Não se pode conseguir uma solução pela via militar. Israel quer fazer propaganda, relações públicas com as negociações, pois todas as políticas que adota fecham as portas e impedem um acordo de paz. Sente-se alentado devido ao apoio da administração norte-americana. Os EUA dão a Israel US$ 3 bilhões anualmente, além de armas estratégicas, para que se mantenha como o país mais forte no Oriente Médio. Isso faz com que tenha estado driblando sua responsabilidade, desacatando as resoluções da ONU e fazendo pouco caso da opinião pública internacional”.

Então o senhor acha que com outro governo israelense, que não seja de extrema-direita, como o de Netanyahu, seria possível encontrar uma solução negociada?

“Essa é uma pergunta hipotética, vou-te dar uma resposta hipotética. Caso Netanyahu formar outro governo, com a participação de seu Partido Likud, de extrema-direita; do Partido Trabalhista israelense, de centro-esquerda; do Shas, que é religioso e o Meretz, que aceita o estado palestino com as fronteiras do ano 1967 se poderiam abrir, talvez, as portas do caminho rumo a paz. Mas ele não quer isso, senão fazer uma coalizão das forças da extrema-direita, por isso o processo de paz esta estagnado. Além do mais, as últimas enquetes demonstram que a maioria dos israelenses continua apoiando o governo de Netanyahu”.

Acha que os EUA têm interesse em pôr fim ao conflito?

“Os EUA querem uma paz que favoreça os objetivos de expansão de Israel. Por isso votaram contra o reconhecimento do Estado da Palestina, em 29 de novembro de 2012, nas Nações Unidas. Depois do reatamento das negociações, em julho passado (o secretário de Estado, John) Kerry disse ao Congresso que ele tem certeza de que Israel poderá anexar 85% das colônias que fez na Cisjordânia e Jerusalém. A administração norte-americana não está buscando uma paz equilibrada, sobre a base das resoluções da ONU”.

Então não vê próxima a hora da paz?

“Não há perspectivas em curto prazo. As negociações atuais estão num beco sem saída; Israel tem dado a conhecer que construirá milhares de moradias na Cisjordânia e em Jerusalém árabe”.

Segundo suas respostas, o senhor opina que o caminho da Palestina é insistir nas Nações Unidas e não o diálogo direto com Israel nos termos atuais. Não é?

“Apelamos ao fim destas negociações e a continuar concretizando nossa entrada como Estado noutros organismos das Nações Unidas. Há muitas instituições das Nações Unidas, incluída a Corte Internacional de Justiça da Haia e o Conselho de Direitos Humanos. Ser membros dessas instituições significaria a internacionalização, o exercício dos nossos direitos, o Estado independente nas fronteiras de 67, e isso representa uma base política e jurídica para negociações posteriores. Em segundo lugar, isso significaria que os novos diálogos teriam lugar sob os auspícios dos cinco países membros do Conselho de Segurança e não só sob o dos Estados Unidos. Significaria também que se Israel não respeita as resoluções, seria levado a tribunais internacionais, como aconteceu com o governo do apartheid na África do Sul. Desta forma, poderiam desenvolver-se negociações balanceadas, que poderiam conduzir à paz”.

Afastando-nos do tema palestino, desejaria sua opinião sobre a situação atual no Oriente Médio e no norte da África, especialmente o que está acontecendo na Síria e quanto ao recente acordo sobre o tema nuclear iraniano.

“O Oriente Médio vive uma etapa de revoluções e intifadas populares, sob o lema de que os povos querem derrubar os regimes ditatoriais e despóticos, quer sejam monárquicos, quer republicanos e banir a corrupção. Estas revoluções foram lideradas por jovens, estudantes universitários, mulheres e posteriormente aderiram as classes populares e médias, trabalhadores, camponeses pobres, desempregados, marginalizados, exigindo a construção de uma nova sociedade, que garanta o pão, a dignidade humana, as liberdades e a justiça social”.

“A administração norte-americana e as forças conservadoras de direita dos países árabes tentam frustrar estas revoluções. Haverá distúrbios até que sejam cumpridas as exigências dos povos. Isso é o que acontece agora na Tunísia, no Egito, no Iêmen. Na Líbia, por causa da agressão norte-americana e da OTAN, há uma grande anarquia, a situação ainda não se estabilizou”.

“Na Síria há uma crise gigantesca, sangrenta, que não se pode resolver através da violência. A solução deve ser mediante a celebração da Conferência de Genebra II, com a participação do governo sírio e de todas as partes da oposição, com participação regional e internacional, até chegar ao cessar das ações militares”.

“Cada país está ocupado nessas questões que mencionava, e isto tem levado a que a causa palestina passe a um segundo plano. A situação vai perdurar até que se estabeleçam regimes que trabalhem pelo cumprimento desses princípios que animaram as revoluções”.

“A respeito do acordo do G5+1 com o Irã, isso se produz como resultado de dois fatores. Em primeiro lugar, há um presidente reformista, que no seu programa eleitoral prometeu que solucionaria a crise nuclear iraniana através das negociações. A segunda questão são as sanções econômicas muito prejudiciais para a economia persa. Por isso foi que se reataram as conversações. Com certeza, o povo iraniano se beneficiará economicamente com este acordo. Isso também contribuirá a que o governo reconsidere suas políticas em nível regional e internacional, de maneira que se estabeleçam pontes de confiança com os países vizinhos do Oriente Médio, sobretudo com os do Golfo Pérsico”.

O que diferencia a Frente Democrática para a Libertação da Palestina de outras organizações similares?

“Todos os destacamentos palestinos coincidem num programa de ação mínimo que tem como centro a importância de manter a coalizão, a unidade, no âmbito da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), com vista a enfrentar a ocupação e garantir que o povo palestino possa exercer seu direito à autodeterminação. A OLP é uma frente nacional ampla, à qual pertencem todos os que participam dessa luta comum para pôr fim à ocupação israelense. No povo palestino, como em todos, há diferentes classes sociais e diferentes correntes políticas, isto é, no campo da resistência há forças de direita, de centro e de esquerda. A FDLP é uma organização de esquerda revolucionária”.

“Depois de constituído o Estado palestino, nossa luta continuará desenvolvendo-se com perspectivas socialistas, o socialismo que concilia desenvolvimento econômico e justiça social e que garante as liberdades para todos. Depois da independência haverá diversos programas. O da direita vai quer desenvolver uma economia capitalista e o da esquerda chamará ao Estado cívico, laico; à igualdade dos cidadãos ante a lei; a igualdade de deveres e direitos e a igualdade entre o homem e a mulher. Mas isso acontecerá quando consigamos vencer a etapa de libertação nacional, quando o ocupante abandone nosso país e seja estabelecido o Estado palestino independente”.



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Manoel Messias Pereira

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