A cidade evoluiram sempre em função do progresso, da tecnica, dos novos meios de comunicação, da displicência dos homens inclusive.
Nas cidades antigas tudo era facil e a vida mais natural e solidária. A pequena praça onde todos se reuniam; as ruas estreitas, o comercio a ladeá-las, dando-lhes vida e o movimento, os bairros residenciais arborizados e tranquilos, supridos pelo comércio local nas exigências do cotidiano.
Com a evolução dos novos meios de produção e transporte, das novas funções urbanas que surgiram da revolução industrial principalmente, as cidades se transformaram em grandes metrópoles, dinâmicas, cheias de vida, mas despidas da antiga e indispensável intimidade.
As cidades existem há anos....Talvez em Nínive, na Babilônia......mas certamente em Roma e Alexandria seus habitantes já encontravam certos problemas que hoje envolvem. A metrópole constituía então um caso tão extraordinário que podemos afirmar ser o século XX sua era verdadeira. David Humes, em "On the populousness of ancient nation", assegurava que depois das experiências feitas nenhuma cidade teria futuro mais de 700 mil habitantes; Willian Pelter dizia que Londres chegaria no máximo a 5 milhões, e Julio Verner, mais realista imaginava a cidade com 10 milhões. Mas o crescimento demográfico das cidades ultrapassou todas essas estimativas. Londres por exemplo tinha em 1801, 864.845 habitantes e em 1981 4.232.118. A era maquinista começava.
As casas de cinco pessoas foram substituídas por apartamentos com 200 moradores, as ruas se encheram de carros e de gente, a densidade urbana cresceu sem controle e os problemas de tráfego, de ruído, de segurança inclusive, passaram a pesar sobre os seus habitantes.
Veio então a cirurgia urbana, os viadultos, trevos e passagens de nivel com suas cicatrizes inevitáveis, e o homem se viu esmagado por sua própria imprevidência, esquecido e frustrado no meio das multidões desconhecidas.
Os espaços urbanos das velhas cidades se tornaram exíguos, agravando a tarefa demolidora do poder imobiliário, a construir enormes edifícios, uns grudados aos outros, invadindo praias e morros, sem respeito pelo homem e pela própria natureza.
E as velhas cidades perderam sua antiga unidade, invadida pela arquitetura racionalista a descer sobre as calçadas com seu inefáveis e repetidos cubos de vidro.
Esta é a explicação corrente, clássica, dos que estudam quase sempre esquecidos da discriminação social odiosa que representam. Apenas na União Soviética e demais países socialistas, onde a revolução aboliu a propriedade da terra, novas possibilidades foram oferecidas. Nas outras cidades do mundo, do Ocidente, para sermos mais precisos, ainda encontramos o mesmo desacerto. Os ricos usufruindo-as alegremente, e os mais pobres espalhados pela periferia no seus miseros barracos.
Em vez de representar o futuro, a realidade limita exprimir de forma belíssima, quem sabe a discriminações e ainjustiça do mundo capitalista.
Que fazer? Como poderiamos nós da América Latina ainda oprimidos pelos velhos privilégios que a urguesia criou, falar desta cidade que requer, antes de tudo, um mundo sem classe, justo e solidário.
Oscar Niemeyer
Um dos expoentes da moderna arquitetura latino-americana. O arquiteto de Brasília.
Este texto foi publicado na revista Eco Rio - Revista já extinta.
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