Enrico Letta
Itália se lança contra as políticas de austeridade defendidas pela Alemanha
AFP - Agence France-Presse
Publicação: 29/04/2013 18:04 Atualização: 29/04/2013 18:50
O novo governo da Itália assumiu disposto a estimular o crescimento econômico em um momento em que a política de austeridade defendida pela Alemanha é mais criticada do que nunca pelos países mais afetados pela recessão. O novo primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, alertou que uma de suas prioridades será lutar contra a austeridade imposta pela União Europeia (UE) e fomentar o crescimento econômico, sobretudo, para combater o desemprego, que chega a 12%.
"Será um governo europeu e europeísta", prometeu Letta, cuja primeira viagem ao exterior será na terça-feira à sede da UE, que estimulou o país a se transformar no "motor de crescimento duradouro" para os países do velho continente. O novo chefe de governo italiano recebeu domingo o apoio do presidente francês, François Hollande, para quem França e a Itália devem "unir esforços" já que a "Europa tem que se mobilizar mais do que nunca para retomar o crescimento".
Na mira de ambos está a política alemã em um momento em que os indicadores confirmam que os países do sul da zona do euro não vão voltar a recuperar o crescimento, apesar das medidas de austeridade a que se encontram submetidos há tempos, como Berlim esperava. Hollande viu vários membros de seu partido, o socialista, se rebelarem contra a política de austeridade preconizada pela Alemanha.
O presidente da Assembleia Nacional, Claude Bartolone, pediu um "confronto" com a chanceler alemã, Angela Merkel. O governo se apressou a tranquilizar Berlim, apesar de não negar suas diferenças. "Debate sim, luta não", sintetizou o ministro das Relações Exteriores francês, Laurent Fabius.
Apesar de Berlim fingir que ignorava essas críticas, sem dúvida, está no centro dos pedidos por uma maior flexibilidade orçamentária, tanto por parte dos Estados Unidos como do FMI, da Comissão Europeia e dos países em recessão e obrigados a realizar grandes cortes econômicos.
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A Alemanha se nega a ser o bode expiatório: "Sei que a Alemanha recebe críticas em outros países europeus"; "Sei que vocês estão ouvindo muitas críticas, mas os que falam verdadeiramente em nome de nossos países, falam de forma inequívoca", declarou nesta segunda-feira o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Sch?uble.
Na França "há quem esteja a favor de nosso trabalho", defendeu quando questionado sobre as recentes críticas dos socialistas franceses, em uma coletiva de imprensa em Granada (sul da Espanha) junto a seu homólogo espanhol, Luis de Guindos. "Na Alemanha tivemos um déficit muito alto, que temos superado com êxito. Sabemos que devemos isso à estabilidade da zona do euro" e "não acreditamos que seria um conselho adequado pedir aos outros que resolvam nossos problemas", disse, em relação aos países mais afetados pela crise e a defesa alemã dos cortes frente às políticas de fomento do emprego que esses países reivindicam.
A Espanha, atingida por uma recessão e com um desemprego recorde de 27%, admitiu na sexta-feira que precisa de mais dois anos para reduzir seu déficit e que seu PIB não vai se recuperar tão rápido como esperava. O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, se juntou nesta segunda-feira aos países que, há meses reivindicam políticas de estímulo de crescimento durante uma visita a seu homólogo português em Lisboa.
"Acreditamos que a Europa pode fazer mais pelo crescimento e pelo emprego", declarou, lembrando os cortes econômicos postos em prática tanto na Irlanda como em Portugal. Segunda a imprensa alemã, os ataques a Merkel se explicam pelas eleições legislativas previstas dentro de cinco meses em seu país.
Os alemães "não votarão apenas sobre a composição do próximo parlamento, mas também sobre a sorte de muitos outros países. Por isso a Europa quer se meter na campanha eleitoral alemã", disse o Süddeutsche Zeitung. Merkel será atacada por "negar dinheiro" aos países em crise, mas esses ataques a ajudarão, já que "a maioria dos alemães é cética quanto aos planos de ajuda" aos países em crise e "apoiam a política da chanceler", lembra o jornal.
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