domingo, 21 de abril de 2013

Literatura inspira espetáculos - Jussara Miller está em cartaz


Literatura inspira espetáculos. Jussara Miller está em cartaz
Bailarina e coreógrafa voltou à Galeria Olido, na capital, com o solo “Cá Entre Nós”, inspirado na obra da poeta Adélia Prado. “O principal desafio é manter uma coerência entre o universo poético do autor e meu próprio universo de sensibilidades enquanto


Jussara Miller

espetáculo - O solo “Cá Entre Nós” retornou nesta semana à Galeria Olido/SP, em julho será apresentado em Garça - Foto: Christian Laszlo
Em tempos nos quais quase todas as linguagens artísticas se misturam, a dança não poderia ficar imune. A experimentação se faz cada vez mais presente nos palcos.

Se no passado a dança tinha como sua principal fonte de inspiração a música clássica, hoje ela dialoga com artes plásticas, cinema, tecnologia e, é claro, literatura.

Coreografias que se baseiam em obras literárias ou buscam inspirações nelas estão em cartaz em São Paulo.

O pequeno texto “Espanha”, de Clarice Lispector, serviu de inspiração para o espetáculo de flamenco “Toro Negro”, dirigido por Débora Dubois. “Cá Entre Nós”, solo de Jussara Miller sobre os escritos da poeta Adélia Prado, está sendo encenado na Galeria Olido.

Em maio, é a vez de “Rútilo Nada”, projeto de Wellington Duarte sobre a obra de Hilda Hilst.

Carolina Zanforlin, criadora de “Toro Negro”, teve certeza de que queria montar “Espanha” desde que o leu pela primeira vez. “É impossível ler e não visualizar aquelas palavras. O texto foi feito para ser dançado.”

Há 20 anos, a bailarina mariliense Jussara Miller pesquisa as conexões entre dança e literatura. “O principal desafio é manter uma coerência entre o universo poético do autor e meu próprio universo de sensibilidades enquanto criadora.”

Para o bailarino Jerônimo Bittencourt, do Coletivo Baú, os versos de Hilst e Quintana são capazes de “passear pelas entranhas”. “Quis experimentar em cena a sensação de deslocamento que essas obras provocam”, diz.

Além destes, dois outros espetáculos montados em março mostraram o poder das palavras em suas criações — “Pó de Nuvens”, inspirado na obra de Guimarães Rosa, interpretado pela companhia 1º Ato, e “O Que Não Cabe na Dança?”, do Coletivo Baú, baseado em Hilda Hilst e Mario Quintana.

Sensações

“Nosso interesse não é o de reconstruir uma narrativa e sim traduzir em sensações e emoções o modo como uma obra pode nos atingir”, diz Suely Machado, diretora da 1ª Ato.

Em “Pó de Nuvens”, os bailarinos vivenciam sensações presentes em contos do livro “Primeiras Estórias”, como “A Terceira Margem do Rio” e “Famigerado”, e no clássico “Grande Sertão: Veredas”.

Segundo Michael Bugdahn, um dos coreógrafos do espetáculo, na obra de Rosa a noção de personagem fica evidente. “Isso nos permite deixar a linguagem da dança mais concreta e acessível.”

Diretor da companhia À Fleur de Peau em parceria com a brasileira Denise Namura, Bugdahn afirma que não há interesse em reproduzir em movimentos a mesma história do livro. “A dança é capaz de traduzir coisas que estão além das palavras”, diz.

Pesquisa embasa obras de Jussara Miller

A bailarina, coreógrafa e prof. dra. do Salão do Movimento, em Campinas e da pós-graduação na Técnica Klauss Vianna da PUC-SP versa entre a dança, literatura e educação. No ano passado ela circulou com o solo “Clariarce” livremente inspirado em Clarice Lispector, inclusive em Marília onde teve uma ótima receptividade. Já o novo trabalho “Cá entre Nós” não pode ser trazido em função da falta de teatro, mas será apresentado em julho na cidade de Garça.

Em entrevista ao Diário ela falou de seu mais recente trabalho destacado nesta semana pela Folhapres entre os espetáculo alternativos em cartaz na capital (hoje acontece a última apresentação desta nova “temporada”, na Galeria Olido).

Diário - Quando estreou Cá entre Nós”?

Jussara Miller - Em 2011, pois fui contemplada pelo Prêmio Proac-2010 para montagem de espetáculo inédito. Realizamos a montagem em oito meses e o espetáculo já foi apresentado 15 vezes na Galeria Olido em São Paulo e em diversas cidades do interior do Estado.

Diário - Como se deu a relação com os poemas de Adelia Prado e porque esta autora?

J. M. - Há duas décadas eu pesquiso as conexões expressivas entre literatura e dança, portanto o solo “Cá Entre Nós”, livremente inspirado em Adélia Prado, surgiu como uma extensão desta pesquisa que vem sendo realizada a partir de diversos autores, na grande maioria brasileiros como: Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Mário Quintana, Clarice Lispector e agora Adélia Prado que nos apresenta, através das palavras, experiências compartilhadas no universo “cá entre nós” de cada um, potencializando a construção da poética do movimento tecida pela articulação entre dança e literatura.

Diário - Você fala em desafio para manter a coerência entre o universo poético e o seu, porque?

J. M - Porque a minha maior preocupação quando trabalho com autores tão consagrados é não diminuir a obra deles com uma interpretação equivocada, portanto é um desafio manter a coerência da obra com o meu universo expressivo singular.

Diario - Como lida com cada um desses universos?

J. M. - Vejo o que mais me toca no universo de Adélia Prado e elenco os temas principais para eu me aprofundar durante a criação do espetáculo.

Diário - Quando e como começou sua ligação mais direta com a literatura “aplicada” na dança?

J. M. - Há vinte anos as obras literárias influenciam o meu trabalho de dança a partir da necessidade que tenho como artista da dança em abarcar a diversidade de possibilidades do corpo expressivo contemporâneo. A dança contemporânea busca romper barreiras e lidar com essa fronteira cada vez mais tênue entre as diferentes linguagens. Esta permeabilidade das fronteiras faz com que o artista contemporâneo busque diálogos entre linguagens na busca constante de diferentes estados cênicos e outras sensibilidades que a obra literária pode provocar e reverberar no corpo cênico.

Diário - Você lançou o livro Qual é o corpo que dança em setembro de 2012. Qual a relação que faz com a educação - adultos, crianças?

J. M. - O meu trabalho pedagógico é bastante vinculado com o trabalho artístico, pois em ambas atividades eu focalizo a expressividade do corpo e do movimento. Este é o meu Segundo livro, o primeiro “A Escuta do Corpo” foi lançado em 2007 pela Editora Summus e já está na sua 2ª edição. Nos dois livros eu dedico um capítulo para o processo criativo de meus solos.

Vera Ros.

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Manoel Messias Pereira

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