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São José do Rio Preto, 12 de Abril, 2013 - 2:00
Professor vira profissão de risco
Victor Augusto
Banco de Imagem
Um dos casos de agressão aconteceu depois que professor retirou o celular de aluno Soco, unhada, ameaça de morte, ofensas na internet e até fogo. Professores de escolas estaduais de Rio Preto passam por dias difíceis em salas de aula. Só nesta semana, foram cinco casos de educadores vítimas do temperamento agressivo de alunos. Uma professora chegou a ser agredida com unhadas e soco no rosto. Outra relatou que foi ameaçada de morte. Em outro registro, três professoras acusam os alunos de calúnia, injúria e difamação na internet.
Na ação mais grave a professora C.L.G., da escola estadual Oscar de Barros Serra Dória, no Solo Sagrado, enquanto aplicava uma prova para os alunos do primeiro ano do ensino médio, pediu para que eles desligassem os aparelhos celulares. Minutos depois, tocou o aparelho da aluna S.M.R, 14 anos, e a garota atendeu. A professora alega que mais uma vez pediu para que o aparelho fosse desligado, porém a aluna continuou a falar, ignorando o pedido. A professora, então, tentou tirar o celular da mão da garota.
“Nessa hora ela me unhou e me deu um soco no rosto. A direção foi chamada e a aluna foi expulsa”, afirma a professora. “A educação já está um caos. O Estado só olha os números, não quer saber dos profissionais. Estamos nas salas de aula correndo risco e ninguém faz nada”, reclama. Já a aluna conta que ouviu o aviso da professora para que desligassem o celular e guardou imediatamente o aparelho na mochila. Porém, recebeu uma chamada e, como a ligação era “muito importante”, resolveu atender.
“Não tinha como não atender. Ela me empurrou, pegou o celular da minha mão e quando eu fui pegar de volta, sem querer, eu a arranhei. Minhas unhas estão compridas”, afirmou a adolescente. “Fiquei com muita raiva da professora quando ela xingou a minha família e nem sei se vou voltar a estudar mais”, conta a adolescente que ainda não sabe para qual escola seria transferida, caso a expulsão seja confirmada.
No mesmo dia dessa ocorrência, mais problema com alunos: na escola estadual Deputado Bady Bassitt, a professora M.A.M.L. registrou boletim de ocorrência contra o aluno G.A.M., da 9ª série. De acordo com o registro, a professora chamou atenção do aluno por indisciplina e ele a ameaçou dizendo que iria quebrar o carro dela e que iria matá-la. A professora e o aluno não foram encontrados pela reportagem para comentar o assunto.
Nos dois casos, as queixas foram registradas em boletins de ocorrência e serão investigadas pela Polícia Civil. Os casos também serão encaminhados para a promotoria de Infância e Juventude. De acordo com o promotor Cláudio Santos de Moraes, na maioria das ocorrências desse tipo envolvendo alunos e professores os adolescentes são ouvidos e recebem uma advertência verbal. “Apenas em casos muito graves, como esse em que o professor relata que foi agredido, prosseguimos com o processo”, afirma.
Moraes acredita que a maioria dos registros envolvendo escolas deveriam ser resolvidos nas próprias instituições, pelos mediadores. “Quando o caso vai para a polícia, fica mais difícil. Só depois de dois ou três meses é que a audiência é marcada na promotoria. Até lá, o aluno já se arrependeu do que fez. É preciso que os próprios professores resolvam essas desavenças”, defende o promotor.
Difamação
Três professoras da escola técnica estadual Philadelpho Gouveia Neto também registraram boletim de ocorrência esta semana afirmando que tiveram fotos publicadas no Facebook com comentários difamatórios. As três educadoras foram procuradas pela reportagem, mas não quiseram se pronunciar sobre o assunto.
“Vamos resolver o problema internamente. Não vamos falar sobre esse assunto”, afirmou uma das professoras envolvidas. Elas também afirmaram que os alunos que fizeram a postagem ainda não foram identificados, porém que as mensagens e fotos já foram apagadas da rede social.
Outros casos
No dia 19 de fevereiro, duas escolas foram alvo de vandalismo, com suspeita de autoria de alunos. A escola municipal Paul Percy Harris, localizada no bairro Parque da Cidadania, foi a primeira a ser atingida pelo incêndio. O fogo foi colocado pelo lado de fora da sala de aula no horário do intervalo dos alunos. Uma cortina e um cartaz, que estava grudado na parede, pegaram fogo e foram destruídos.
Sete horas depois do primeiro registro, a cortina de uma sala de aula da escola estadual Adair Guimarães Fogaça, no Eldorado, também pegou fogo. Assim como caso da escola municipal, a sala estava vazia no momento em que as chamas atingiram o tecido. A situação foi controlada por funcionários da unidade escolar. Neste caso também não houve feridos. Em nenhuma das duas ocorrências o Corpo de Bombeiros precisou ser acionado.
AVALIAÇÃO E SUSPENSÃO
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação informou que assim que houve comunicação do fato ocorrido na escola Oscar de Barros Serra Dória, na manhã de anteontem, a Ronda Escolar da Polícia Militar e os responsáveis pela aluna foram chamados. A mãe dela compareceu à unidade de ensino e acompanhou a adolescente à delegacia. A professora fez o registro da ocorrência e retornou ao trabalho no mesmo dia.
Diferente do que foi informado pela professora, o Estado não confirma a expulsão da aluna. De acordo com a assessoria, “o Conselho de Escola se reunirá para determinar quais medidas disciplinares serão tomadas em relação à estudante”. A nota afirma ainda que o caso também será acompanhado pelo professor-mediador que atua na unidade e que o Conselho Tutelar será notificado do fato.
Com relação ao ocorrido na escola Deputado Bady Bassitt, a assessoria de imprensa afirmou que os pais do aluno foram chamados e e o garoto foi suspenso por sete dias. A professora-mediadora que atua na unidade acompanha o caso. O Diário entrou em contato com o Centro Paula Souza, responsável pela Escola Técnica Philadelpho Gouveia Neto, porém, até o fechamento desta edição a assessoria de imprensa não retornou a solicitação.
ANÁLISE:
Uma sociedade mais ativa para virar esse jogo
Foi-se o tempo que um estabelecimento de ensino era o ambiente saudável e seguro para a educação de crianças e adolescentes. Hoje a família já não tem mais a sensação de tranquilidade e confiança ao deixar um filho à porta da escola, imaginando que ele estará em paz na “casa do saber”.
De uma maneira bastante genérica, verifica-se que a violência é mais acentuada nas escolas de periferia das cidades de grande porte. Para nossa preocupação, Rio Preto está entrando nessa zona de perigo iminente. As maneiras pelas quais a violência se manifesta nas escolas são múltiplas e bastante variadas. O bullying, nas mais variadas formas, é talvez a mais praticada no ambiente estudantil, sobretudo com alunos a partir dos 10 anos, já entrando na quinta-série do Ensino Fundamental.
As causas da violência são bastante evidentes e a sociedade as conhece. O difícil é amenizar o problema. Uma tentatuva seria envolver toda a comunidade escolar (estudantes, pais, professores e funcionários) para discutir o problema e apontar algumas soluções de como reagir nos casos de violência.
A comunidade deve elaborar um Código de Conduta dentro da escola, a partir de ampla discussão nos vários seguimentos. A direção do estabelecimento deve estabelecer amplo e permanente diálogo com as autoridades policiais locais, com vista à segurança na parte externa da escola, e com as autoridades civis para providências de iluminação, uso de câmeras de segurança, etc.
Como se percebe, a comunidade deve chamar para si a discussão e as possíveis soluções para o problema, e exigir das autoridades o suporte técnico e financeiro para implantação das novas medidas. De nada vai adiantar uma viatura policial estacionada na frente de cada escola.
Gentil de Faria é professor titular na Unesp de Rio Preto. Foi secretário da Educação (1997-2000).
Diário da Região - São José do Rio Preto-SP
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