História e Poder - Uma análise da História em Microfísica do Poder de Michel Foucault
por Rafael Santana Bezerra
Sobre o autor1
A verdade, espécie de erro que tem a seu favor o fato de não poder ser refutada, sem dúvida por que o longo cozimento da história a tornou inalterável.2
Michel Foucault
A historiografia em seus estudos decompôs o poder através das instituições representativas: o Rei, a Igreja, o Estado. De uma maneira geral o poder centralizado. Escrevia-se a História baseando-se nessas formas de análise, na impressão de uma propriedade do poder. Foucault nos ensina como essas forças estão capilarizadas. Ele nos propõe uma analítica do poder cotidiano, são os seus exercícios nas relações familiares, nas fábricas, nas escolas e nas prisões, em qualquer lugar, coexistindo às relações humanas. Não é uma análise histórico-materialista assemelhando-se a modos de produção, não nos apropriamos do poder, não o possuímos, não o temos. Ele só existe em estado de ação, é molecular, ou ainda, microfísico, é independente do sujeito de escolha.
Além de desnaturalizar o sentido de possessão do poder, Foucault desmascara o julgamento moral desses estudos. Houve um consenso em classificar a ação da força como puramente negativa, ou ainda, somente repressiva. Antes era somente o poder como instrumento para disciplinar, punir, castigar, ferir, explorar. Exercer a força era essencialmente produzir efeitos maus sobre os indivíduos. Não havia a possibilidade de creditá-lo a um movimento criador. O poder em Foucault é também criativo. É no momento do exercício, da ação, que o poder cria. Ele constrói discursos, formações familiares, sexualidades, ou ainda, prazeres. O poder cria verdades, loucuras, delinqüências.
Portanto, este teórico é fundamental para uma análise da História, não das formas pretéritas já estabelecidas, mas, garantido uma originalidade necessária e capital para o desenvolvimento do estudo de uma História/Poder:
Pois se o poder só tivesse a função de reprimir, se agisse apenas por meio da censura, da exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de um grande superego, se apenas se exercesse de um modo negativo, ele seria muito frágil. Se ele é forte, é porque produz efeitos positivos a nível do desejo como se começa a conhecer e também a nível do saber. O poder, longe de impedir o saber, o produz. (FOUCAULT. 2003, p. 114);
Muito pouco ainda se escreveu sobre essas concepções de tratamento da História. A Historiografia insiste em limitar-se nas análises epistemológicas, criando, ainda, um rico e vasto conteúdo. Ainda que haja, discordância nas formas de classificar as metodologias da escrita da História há, especialmente, um consentimento, ou antes, um imperativo categórico que estabelece como fundamental uma busca pela verdade histórica.
Devemos ampliar a ideia de que a História não esta livre dos jogos políticos, e que, além disso, ela não esta liberta dos desejos dos seus escritores. Os historiadores que ainda deleitam-se na ilusão de uma ética da profissão estão mergulhados na concepção ilusória de que a História repousa na idealização da verdade como objeto do conhecimento.
Colocamos em questionamento o próprio entendimento tradicional de acontecimento histórico. Como se os fatos históricos existissem sem o pronunciamento do narrador, daquele que é o dispositivo da verdade histórica. Como se ele fosse um a priori histórico. Nenhum acontecimento é, em si mesmo, histórico. Porém, todos estão no devir, numa eterna potencialidade, estão sujeitos ao aprisionamento da linguagem histórica.
Nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que, no entanto está somente a espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. (FOUCAULT. 2003, p. 113)
O pronunciamento do historiador define as condições para transfigurar certos lampejos do passado em instrumento de análise. Ele classifica as importâncias, estratifica os acontecimentos, define os heróis, esconde as impurezas . Ele filtra a História, dentro das evidentes possibilidades do movimento histórico. Deveremos nos preocupar acerca dos efeitos dos enunciados considerados verdadeiros.
Hoje, não podemos acreditar numa moralidade universal, numa ética que estaria presente em todos os profissionais da História. É improvável uma concepção de consciência coletiva. As verdades saltam, acendem e apagam-se nos tempos históricos. Não se trata de uma negação de todas as formas de verdades, é somente, colocá-las em contrariedade. É incluí-las num jogo de desconstrução. É dar movimento à concretude dos conceitos.
A luta maior deve-se a essas formas de manipulação dos direitos de declaração. Não na sua forma de alternativa, mas sob sua configuração de hegemonia. É através dessa nova óptica que se deve observar a História. Ela é muito mais do que simplesmente interpretação de fatos históricos. Vai além de uma hermenêutica do passado, sob fontes seguras documentais.
A História é instrumento das vontades de poder. É em si mesmo uma materialização da vontade de saber. Apoderar-se da reconstituição do passado é uma relação já definida, um saber/poder: O exercício do poder cria perpetuamente saber e, inversamente, o saber acarreta efeitos de poder3 . É, também, o poderio de definir os campos do conhecimento, suas constituições, suas delimitações, suas obrigações, suas finalidades e instituições.
Acreditar numa História inocente é um erro gravíssimo. É ignorá-la como arma. Como instrumento daqueles que possuíram o direito de constituir seus limites. Além disso, é dissolver sua importância. Ela é aparelho não somente daquelas influências de poderes evidentes, mas, sobretudo, de um emaranhado de forças que se sucedem e se transformam a cada instante.
As historiografias nacionais exemplificam exatamente essa afirmação, elas culpam seus inimigos de suas mazelas, controlam o passado sob a rédea de seus domínios presentes. Os americanos fizeram entender que a Segunda Guerra foi fruto, sobretudo, da personalidade sádica de Hitler. Esquecem, ou ainda, fazem apagar da escrita da História todas as igualdades que construíram um campo de guerra. Anulam seus interesses, colocam-se como provedores da liberdade individual característica do neoliberalismo. É a estatua da liberdade contra os signos fascistas.
Os marxistas, aqueles mais ferozmente dogmáticos, fazem construir uma História redesenhada sobre valores morais. Os proletariados assemelham-se na realidade a uma categoria penosa, merecedora de recompensas vindouras. Enquanto, aos burgueses, creditam todas as mazelas que a monopolização das riquezas constitui. É a História desenhada sob o enredo antagônico do Bem e do Mal.
Stalin no auge de seu poder eliminou a figura representativa de Trotsky dos livros de História de toda a União Soviética. Getulio Vargas construiu uma imagem populista, financiou inúmeros intelectuais, construiu um governo vitorioso, através da negação de um passado de atrasos e a promessa de um futuro de progresso.
Juscelino Kubitschek criou o ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros -, que tomou a forma de difusão intelectual de seu modelo governista, o nacional-desenvolvimentismo. Era a validação do progresso sob verdades cientificas. Não se trata, somente, de colocar a História como investigadora dos conteúdos verdadeiros, mas, sobretudo, de interrogar as forças que validam certos conteúdos como falsos e verdadeiros, uma forma de compreender a relação entre o poder/saber.
Quando Benjamin fala sobre a perfectibilidade infinita do gênero humano XIII Tese Sobre o Conceito de História -, está justamente criticando a ideologia dogmática criada pelos intelectuais nazifascista para mover toda uma carente e inconsciente população. É mais uma vez o conhecimento em sua funcionalidade bélica, não nas formas físicas tradicionais de luta, mas uma guerra muito mais perigosa que atinge impiedosamente a mentalidade humana.
Os ilustrados ao reviverem o mundo racional fazem criar na tradicional demarcação temporal do mundo moderno uma breve idade média. Trata-se da cultura barroca que foi vista como uma barreira ao progresso que tinha sido iniciado no renascimento. Percebemos então, que o direito de dizer sobre o passado constitui-se como um instrumento importantíssimo das formas de hegemonia do poder. Ou ainda, uma excelente fonte de identificação no ato da alteridade.
Foucault critica as tradicionais concepções cientificistas de interpretação da História. Principalmente, aquelas que definem as ações humanas como essencialmente racionais. Hegel é um exemplo desses historiadores: O único pensamento que a filosofia traz para o tratamento da história é o conceito simples de razão, que é a lei do mundo e, portanto, na história do mundo as coisas acontecem racionalmente (p.53).
Há uma negação, evidente, das interferências que as incompletudes humanas exercessem nas possibilidades de ações do homem. O ódio, o amor, o medo, de uma maneira geral os sentimentos são colocados abaixo do nível da razão, e consequentemente infrutíferos de estudo cientifico: o sentimento é a forma inferior em que se pode existir qualquer conteúdo mental (p.58).
A História foi marcada por uma tentativa de escrevê-la sob as simétricas ordenações do racionalismo. Como se ela obedecesse a uma ordem cronológica pré-determinada. Uma concepção de que o movimento histórico caminhasse sob a tranqüilidade de leis de sentido. Uma História que possui efeitos, causas, ou até mesmo, um fim. Foucault desconstrói esses sentidos, essas relações causais, ele desfragmenta o racional e a necessariedade da causa/efeito:
Relações de poder, não relações de sentido. A História não tem sentido , o que não quer dizer que seja absurda ou incoerente. Ao contrario, é inteligível e deve poder ser analisada em seus menores detalhes, mas segundo a inteligibilidade das lutas, das estratégias, das táticas. (FOUCAULT. 2003, p. 05)
Sentido deve ser entendido como finalidade dos acontecimentos históricos. Como se o tempo e os acontecimentos caminhassem numa lógica própria da modernidade, é pensar a História como uma cadeia de acontecimentos laboratorialmente prescritos. É uma evidente crítica as tradicionais escolas historiográficas, ou antes, uma negação da necessariedade de racionalismo das ações humanas. Aqui, trata-se de colocar o acaso em evidencia. Não é somente o esperado, não é simplesmente a História enredada, há o espaço para o impensado, para o improvável.
Hoje, as produções intelectuais estão cada vez mais segmentadas, talvez este seja um assunto para outro debate, contudo, podemos perceber que os limites entre as disciplinas estão sendo gradativamente delineados. O conhecimento segue o ritmo das fábricas, do fordismo, do isolamento, da segregação. Eles são separados, é o perigo da união que fraciona os saberes.
As preocupações dos historiadores ao produzir suas historiografias são cada vez mais salientes. Há um medo de ultrapassar certas barreiras, de invadir o campo da filosofia ou da sociologia, da literatura ou da filosofia, por exemplo. Esse medo revela não somente o querer distinguir-se, mas o desprestígio que certas disciplinas carregam na modernidade.
O historiador inquietado com as formas de hegemonia, àqueles que estão em contradição à conformidade devem se preocupar não em distinguir os objetos da História ou da Sociologia, mas, especialmente, entender como foram construídas condições objetivas dessas distinções, é procurar perceber como foram construídas categorias de segregação. É preciso então, livrar-nos dessas amarras, dessas prisões teóricas que insistem em mecanizar a produção historiográfica.
Quando asseguram que a História é ciência não estão simplesmente validando seus conteúdos como verdadeiros, mas, estão também, de certa forma querendo negar algum conhecimento com essa afirmação, esses conhecimentos negados pelo sistema é o que Foucault chamou de saberes locais. Foucault e sua História genealógica pretendem libertar esses conhecimentos menores (Deleuze) da objetivação dominadora dos saberes globais. Deve-se publicar a construção histórica que hierarquizou a medicina popular abaixo das instituições hospitalares, por exemplo.
Antes de analisar de fato o conteúdo histórico por trás do conhecimento cientifico, a História analítica do poder deve considerar ou ainda sob as palavras de Michel Foucault Interrogar sobre as ambições de poder que a pretensão de ser uma ciência trás consigo (...) :
Trata-se da insurreição dos saberes não tanto contra os conteúdos, os métodos e os conceitos de uma ciência, mas de uma insurreição dos saberes antes de tudo contra os efeitos de poder centralizadores que estão ligados à instituição e ao funcionamento de um discurso científico organizado no interior de uma sociedade como a nossa. (FOUCAULT. 2003, p.171)
A História Genealógica, projeto iniciado com Nietzsche e ampliado em Foucault, possui esses objetivos gerais, é uma necessidade de observar as coisas além de seus estados momentâneos. É preciso colocar os objetos em seu plano temporal, retira-los de sua concisão. É uma eterna análise do que rege a História. Perceber como seus objetos foram modelados para encaixar-se num enquadramento de pensamento que estava se tornando a grande indústria da verdade. Foucault coloca a genealogia como uma História libertaria dos saberes locais. Uma tentativa de mostrar a apropriação dos conhecimentos não institucionalizados por esses sistemas universais de conhecimento.
Durante a Idade Média o conhecimento popular sobre a natureza foi duramente reprimido pela poderosa instituição religiosa da época. As famosas bruxas eram na realidade senhoras que dominavam a medicina popular. Contudo, os saberes globalizantes do mundo medieval, que eram a teologia, ficavam ameaçados por essas especificidades, que podiam curar e explicar a natureza de outra forma. Deste modo, compreende-se as implacáveis perseguições e as duras punições às perigosas bruxas.
No Brasil, temos um exemplo evidente. O que aconteceu com o conhecimento indígena? Para onde foi esta sabedoria? As indagações do coordenador geral dos direitos indígenas, Marcos Terena, encontrado no livro de Edgar Morin: Saberes Globais e Saberes Locais o olhar transdiciplinar , demonstra exatamente essa apropriação dos conhecimentos não formalizados. Como poderiam os bárbaros e mitológicos indígenas enfrentar a força racional e civilizatória do mundo branco português?
Esses simples exemplos tiveram como função primordial mostrar certos efeitos do poder científico produzidos na modernidade, e que são mascarados pelo desejo de uma qualidade no conhecimento. A ciência colocou-se como antagônica à mitologia, à teologia, mas, durante muito tempo, acreditou-se capaz de solucionar todos os problemas humanos e preencher todo o seu sentimento oceânico. Não há maior essência mitológica e teológica do que esta, a da totalidade.
A genealogia seria, portanto, com relação ao projeto de uma inscrição dos saberes na hierarquia de poderes próprios à ciência, um empreendimento para libertar da sujeição os saberes históricos, isto é, torná-los capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico, unitário, formal e cientifico. (FOUCAULT. 2003, p. 172.)
É através dessas análises, das constituições dos saberes, que questiono a cientificidade histórica. A modernidade classificou num patamar incrível de importância os conhecimentos científicos, nessa lógica fazer uma História não cientifica é menosprezar-se.
É uma longa busca da compreensão das condições macro-estruturais que as compõem. São as condições políticas, as estruturas de pensamentos, as condições materiais de uma época, a economia, as relações humanas. Houve, na realidade, uma busca dos métodos historiográficos para enquadrar-se nos momentâneos e prestigiosos dispositivos de verdade, desta forma força-se uma adaptação dos objetos a esses regimes constituintes do conhecimento. Existe todo um aparelho que limita o campo do verdadeiro, o historiador deve ampliá-los, ou quando necessário destruí-los
É uma História inquietada com a formação do conhecimento. Sobre o inconstante questionamento de como o direito de dizer o que é importante estudar foi apropriado numa construção histórica. É uma preocupação também, acerca do que é estabelecido num certo domínio do verdadeiro e até onde vão os objetos de estudo, qual a distinção dos métodos. Isto é, uma forma de História que dê conta da constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, etc. (FOUCAULT, Pág7).
O que está em questão é o que rege os enunciados e a forma como estes se regem entre si para constituir um conjunto de proposições aceitáveis cientificamente e, consequentemente, susceptíveis de serem verificadas ou infirmadas por procedimentos científicos. (FOUCAULT, 2003, p. 4)
Foucault nos apresenta uma História que além de contrariar a materialidade dos conceitos, faz saltar dos olhos algo que ninguém conseguia perceber. Talvez, grande parte de sua influência aos curiosos, deva-se ao conteúdo apaixonante de suas pesquisas, diria, conteúdos adolescentes que trasbordam originalidade. Ao ler Nietzsche percebemos uma literatura ácida, uma gênese de toda essa construção, um pensamento com funções de despertar. Utilizo-me das palavras do próprio Michel Foucault sobre Nietzsche para demonstrar a importância de sua teoria na reinvenção da História, não se trata de seguir os ensinamentos dos mestres, mas, sobretudo: É precisamente utilizá-lo, deformá-lo, fazê-lo ranger e gritar . Reconstruí-los.
Não há equilíbrio, não há ausência, não há se quer imparcialidade. A História é também um exercício de escolhas dentro dos limites impostos. É a escrita do historiador sob suas concepções políticas, é o que ele defende ou o que ele julga que transpira por sua produção histórica.
A História nunca estará ausente dessas redes de poder. Exatamente por que ela no instante que se configura como conhecimento é automaticamente uma vontade de saber. A História é um poder materializado em conhecimento. Na realidade a intenção não é o desvencilhamento do poder na História. Não há essa possibilidade. Contudo, o desejo do genealogista é colocar o plano das alternativas. A ciência que procura enquadrar em seu domínio os conhecimentos históricos anula a possibilidade das especificidades, do jogo das analogias. Alimenta-se a ilusão, nessas ultimas gerações, de uma flexibilidade científica, contudo, estamos jogados, encobertos num jogo de limites, numa soberania de produção intelectual.
Não se tem a pretensão impossível de retirar o exercício do poder da História. Mas, lutar contra as formas de hegemonia do conhecimento. Fazer com que ela caminhe pelo seu amplo campo de opções. Devemos procurar questionar e transformar os regimes políticos das constituições das verdades, ou ainda sobre as palavras de Michel Foucault, a História deve: Interrogar as relações entre as estruturas econômicas e políticas de nossa sociedade e conhecimento, não em seus conteúdos verdadeiros ou falsos, mas em suas funções de poder/saber .
Não se trata de libertar a verdade de todo sistema de poder o que seria quimérico na medida em que a própria verdade é poder mas de desvincular o poder das formas de hegemonia (sociais, econômicas, culturais) no interior das quais ela funciona no momento. (FOUCAULT, 2003, p. 14)
Parece na realidade grande pretensão o desejo de transformar estruturas tão sólidas. No século XXI o mundo social parece muito menos precisamente esboçado, as especificidades de luta são muitas, a comunicação é veloz, incrivelmente disseminada. Um século atrás e o mundo estava sob o regime ideológico de duas grandes potências. Hoje, temos um vasto e complexo emaranhado de forças, que se colidem diariamente. Foucault já nos ensinou que não há formas de poderes e consequentemente de saberes eternos. Aonde existir exercícios de poder e de saber haverá sempre resistências, lutas, embates, contradições, enfrentamentos.
Não há mais espaço neste século para as formas centralizadas e representativas de poder. A ideologia difundida de liberdade e democracia tomou conta do imaginário popular, o sentido do exercício de poder está cada vez mais mascarado. O panóptismo é latente, consome a civilização moderna, retiraram-se os focos do poder, tornaram-se invisíveis, inconstantes e ainda mais inseguros e perigosos. Os conflitos são menos evidentes, estamos entregues num jogo de ilusões. O poder moderno não é só onipresente; é também anônimo e globalizante; transforma a nós todos, poderosos e humildes, governantes e governados, em dentes de sua maquinaria4 , as palavras de Merquior explicitam essa concepção do poder moderno sempre presente e ao mesmo tempo inacessível.
Diante de todo esse novo panorama histórico, num mundo onde a cultura globalizante insiste em enforcar as identidades locais, lugar onde as lutas se mascaram em protestos online, num campo onde o pensamento é duramente aniquilado pelos programas televisivos, deixo um questionamento que no futuro ambiciono responder. Alguns podem considerá-la banal, mas é fundamental para tudo aquilo que um dia pretendo conquistar: Qual o papel do intelectual no século XXI?
BIBLIOGRAFIA
BAÍA, Ângela. A Problemática do Sujeito em As Palavras e as Coisas de Michel Foucault. Dissertação de Mestrado. Departamento de Filosofia da UFPE. 2007;
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: 18ª Edição Graal, 2003;
HEGEL, Friedrich. A Razão na História. Editora Centauro. 2004;
MERQUIOR, Guilherme. Michel Foucault ou o Niilismo de Cátedra. Editora Nova, 1985;
MORAN, Edgar. Saberes globais e Saberes Locais o olhar transdiciplinar. Rio de Janeiro. Garamond, 2010;
RAJCHMAN, John. Foucault, A Liberdade da Filosofia. Editora Jorge Zahar. 1985;
--------------------------------------------------------------------------------
1 Graduando em História pela Universidade Federal de Pernambuco.
2 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Página. 19.
3 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Página. 142.
4 MERQUIOR, Guilherme. Michel Foucault ou o Niilismo de Cátedra. Página 174.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
opinião e a liberdade de expressão