terça-feira, 9 de abril de 2013

Preferência Sexual não é opção




Preferência sexual não é opção
Que religiosos e políticos esperneiem à vontade, mas não há evidência de que o ambiente social influencie o interesse por homens ou mulheres
Suzana Herculano-Houzel
Gonçalo Viana

Na hora do sexo, você gosta de homens ou de mulheres? Acha que isso é uma escolha consciente, que pode ser “certa” ou “errada”, ou uma questão biológica, mera constatação das preferências do seu cérebro, da mesma maneira que se constata a cor da pele ou dos cabelos?

Toda a neurociência indica que a orientação sexual é inata, determinada biologicamente e antes mesmo do nascimento. Aliás, o termo correto para designar a heterossexualidade ou homossexualidade é “preferência” sexual e não “opção” sexual. A razão é simples: interessar-se sexualmente por homens ou mulheres é algo que seu cérebro faz automaticamente, pouco importando o que você pensa a respeito. Opção, isso sim, é o que você faz com a sua preferência: assume publicamente, abraça e curte, ou tenta abafar, esconder, ou mesmo ir contra ela.

Que religiosos e políticos esperneiem à vontade, mas não há qualquer evidência de que o ambiente social influencie a preferência sexual, humana ou de outros bichos. Cerca de 10% dos homens e das mulheres preferem parceiros do mesmo sexo. A estatística não muda entre pessoas criadas por pai e mãe, dois pais, duas mães, com religião ou sem ela. Tentativas sociais de convencer humanos ou outros animais a mudar de preferência sexual nunca deram muito certo.

A preferência sexual está associada à maneira como o hipotálamo responde a feromônios, substâncias pouco voláteis produzidas pelo corpo, mas que ainda assim entram nariz adentro e surtem efeitos sobre o hipotálamo. Um estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, mostrou poucos anos atrás que o hipotálamo de cada pessoa é preferencialmente sensível a um de dois tipos de feromônios: ou o feminino, ou o masculino.

O hipotálamo de homens heterossexuais – e também o das mulheres homossexuais – responde fortemente ao feromônio produzido somente por mulheres, chamado EST. Ao contrário, o hipotálamo de mulheres heterossexuais, e também de homens homossexuais, responde preferencialmente ao feromônio masculino, AND. Com tudo o que se conhece sobre a região envolvida do hipotálamo, deve se seguir uma cascata de eventos em outras áreas do cérebro, como a amígdala, o córtex cerebral e o sistema de recompensa, que provocam excitação sexual e fazem com que se busque o dono, ou a dona, do feromônio que ativou o hipotálamo.

O padrão de resposta do hipotálamo, portanto, concorda não com o sexo de cada pessoa, e sim com sua preferência sexual – e, com base em tudo o que já se sabia antes, provavelmente dita essa preferência. São sexualmente excitáveis por mulheres aqueles proprietários de hipotálamo que responde ao EST, feromônio feminino, e não ao AND; são excitáveis por homens, que por definição produzem o feromônio AND, os donos de hipotálamo sensível ao AND – sejam eles mulheres ou homens.

Revelada quando o cérebro adolescente, sensibilizado pelos hormônios sexuais produzidos sob seu controle, expressa o caminho que tomou ainda na gestação, a preferência sexual não se escolhe: descobre-se. Por isso, ela é exatamente tão “correta” quanto a cor da sua pele. Tentar mudar a preferência sexual é como insistir que uma pessoa troque a cor da pele, se torne mais baixa, ou tenha olhos de outra cor. É como exigir que você, leitor, com 90% de chance de ser heterossexual, agora tenha de se relacionar com pessoas do seu próprio sexo. Gostou da ideia? Aposto que não. É inviável, inútil e injusto.

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Manoel Messias Pereira

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