sábado, 2 de março de 2013

Manifestações do dia 2 de março em Portugal



Vários colectivos e organizações marcaram uma manifestação para o dia 2 de março. Muitos dos
seus subscritores estiveram também ligados a outros momentos de indignação popular como o 12 de Março, o 15 de Outubro, o 12 de Maio (que acabou por ser um fiasco) e o 15 de Setembro. Em todos estes momentos, embora variasse, houve milhares de pessoas que saíram às ruas mostrando a sua indignação, o seu protesto, a sua revolta. Agora, dia 2 de Março pretende-se o mesmo: mostrar que estamos indignados. Bastará? Não se sabe já isso? São precisos mais dados concretos?


Claro que não. Todos sabemos que há uma indignação e uma revolta generalizadas com as condições de empobrecimento, de miséria e de corte em tudo o que são direitos sociais levados a cabo pelo actual governo, sob o álibi da troika. Daí que, como proposta, este grupo que convoca a manifestação tenha uma alternativa: ” Exigimos a demissão do governo e que o povo seja chamado a decidir a sua vida”., dizem no manifesto que convoca o protesto. E aqui é que a “porca torce o rabo“: afinal que alternativa é esta que nos propõem que apenas significa deixar tudo como está ou, em contraponto, entregar o governo ao PS que não fará nada de muito diferente daquilo que o PSD/CDS estão a fazer?


Mas será que estas dezenas de pessoas que assinam o manifesto não terão alternativa melhor? Nunca ouviram falar da auto-organização;  da possibilidade de organização social por parte de grupos organizados e em rede, autogestionários;  das capacidades do movimento popular em encontrar, através das assembleia populares e da democracia directa, formas de autogoverno? Nesta altura do “campeonato” virem propor como mobilização aos movimentos sociais a “demissão do governo”, enquanto uma das palavras de ordem centrais, mais parece uma alternativa mentirosa e (uma vez que se sabe que mesmo que haja a queda deste governo qualquer outro que para lá vá vai fazer o mesmo, ou com muitas semelhanças), não será o mesmo que pretender desmobilizar o protesto e a indignação a troco de meia dúzia de votos que não vão servir para nada??

Entre mentiras e não ditos esta palavra de ordem, embora apetecível para muitos de nós que sofrem na pele a actuação deste e de outros governos, esconde por detrás o que é a farsa do eleitoralismo: BE e PCP querem eleições porque se contentam com mais um ou dois deputados, vivem do dinheiro das rendas parlamentares e os momentos eleitorais são óptimos para relegar as lutas populares e autónomas para segundo plano. Pouco lhes importa quem ganhe as eleições. Sabem que não são eles, mas com mais um ou dois eleitos – se for esse o caso – sempre podem gritar por vitória

Sem querer pretender que as manifestações apenas têm este objectivo – e isso não é verdade -, nem que entre quem as convoca não haja muitas pessoas de boa fé, julgo que não vale a pena fazermo-nos de ingénuos e considerar que o BE, por exemplo, não tem ali uma “mãozinha” forte. Isso não seria grave desde que fosse feito de maneira aberta, clara e transparente e que o eleitoralismo desbragado de querer hipotecar o movimento popular em troca de um pozinhos de percentagem eleitoral (e vamos  a ver se os vão ter…) fosse posto de parte.

Todos os momentos são bons para o protesto e para a indignação, mas o protesto e a indignação têm que dar origem a momentos de construção de alternativas sólidas e consequentes. Pretender que a consequência e alternativa dos protestos de ontem, de hoje e do futuro será uma mudança  de governo (qualquer que ele seja) e de chicote dá a bem ideia que os políticos têm dos movimentos sociais: apenas carne de canhão para os seus projectos partidários, particulares e nauseabundos.

Por isso, seria bom o aparecimento de outras convocatórias para o dia 2 de Março, também elas de protesto e indignação, que pudessem desaguar no grande mar que nesse dia serão muitas cidades do país, mas que não se limitassem ao reformismo e eleitoralismo patentes na convocatória original. Podemos marchar juntos, mas temos que ter consciência que não marchamos todos para um mesmo lado. Uns querem-se representar no Parlamento e ficam satisfeitos. Outros, como nós, nunca aceitaremos que nos representem!




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Manoel Messias Pereira

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