sábado, 26 de março de 2011

A história do bairro do Bexiga



Vale do Saracura em foto que deve ter sido feita entre 1910 e 1920
Atualmente, uma das principais características do bairro do Bexiga, em São Paulo, são os cortiços. Segundo a historiadora Sheila Schneck, as construções erguidas principalmente após 1894 tiveram de respeitar o Código Sanitário da época. “Preocupada, entre outras questões, com a saúde pública, a administração da cidade estabeleceu, naquele documento, que as casas deveriam ser amplas, iluminadas e arejadas. Os terrenos tinham, em média, cinco metros de frente, por 30 metros ou mais de fundo”, descreve. Tal característica, em parte, pode ter sido um dos fatores que favoreceu as atuais habitações coletivas no bairro. Sheila é autora de uma pesquisa apresentada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) que analisa a formação do bairro.

No estudo de mestrado Formação do bairro do Bexiga em São Paulo: loteadores, proprietários, construtores, tipologias edilícias e usuários (1881-1913), a historiadora analisou, do ponto de vista urbanístico, como se deu a ocupação do bairro. “Até aproximadamente 1870, a urbanização da cidade esteve ligada aos acontecimentos da época. Foi quando a cidade começou seu crescimento, principalmente com a economia do café e a implantação da estrada de ferro”, conta. “A cidade se transformava em polo político e econômico, e a urbanização, assim como as construções seguiam um ideário europeu modernizante.” Com a entrada de imigrantes e o aumento da população, Sheila relata que houve a necessidade de expansão da cidade e a consequente criação de mais moradias.

Assim como os bairros do Bom Retiro e da Lapa, por exemplo, o Bexiga surgiu para abrigar os novos moradores paulistanos, imigrantes. A maioria deles, segundo a pesquisadora, buscando moradias mais baratas.

Chácara
O Bexiga surgiu a partir do loteamento de uma chácara que se chamava “chácara do Bexiga”. “As terras estavam localizadas numa área próxima ao centro, entre o que é hoje a Consolação, Liberdade e avenida Paulista. O proprietário era Antonio José Leite Braga”, descreve Sheila. Ela conta que por volta de 1884, a viúva do então dono da chácara veio a se casar com o engenheiro Fernando de Albuquerque, que se mostrou “um grande especulador imobiliário, responsável pelo loteamento das terras”.



Saracura: local ainda mantinha aspectos rurais na década de 1920
Sheila ressalta que o acesso ao Bexiga na época era dificultado pela existência de alguns cursos d’água. O córrego da Saracura — que tinha seu curso no que é hoje a avenida 9 de julho — afluente do córrego do Anhangabaú. “Havia ainda um segundo córrego, o Itororó, aproximadamente no trajeto em que está hoje a avenida 23 de maio, além do Bexiga, localizado entre os dois primeiros. Esses pequenos cursos d´água, aliados ao relevo acidentado, dificultavam o acesso ao bairro o que tornava os terrenos baratos”, diz Sheila.

Formação e construções
Sheila utilizou como fonte de sua pesquisa documentos do Arquivo Histórico Municipal e de jornais, datados de 1881 a 1914. Entre eles a Província de São Paulo, que mais tarde tornou-se O Estado de S.Paulo. Nesses levantamentos, ela constatou que os lotes foram vendidos a pequenos empreendedores. “Eram pequenos comerciantes, em sua maioria italianos, mas também brasileiros e portugueses que construíram no bairro, principalmente para locação”. Foi quando começaram a surgir as quitandas e os armazéns de secos e molhados.


Projetos arquitetônicos das ruas Manoel Dutra e Santo AmaroAs características arquitetônicas do Bexiga, que é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP), estão ligadas principalmente ao Código Sanitário, de 1894, instituído pela municipalidade. Este código determinou as características básicas das construções que até hoje podem ser vistas no Bexiga”, diz Sheila. “Além do pé direito alto, as casas deviam ser amplas, iluminadas, arejadas. Em suas frentes, a maioria tinha duas janelas e uma entrada lateral. Eram compostas de sala, quarto(s), sala de jantar e cozinha”, descreve. Os banheiros, de uma maneira geral eram fora das residências, nos fundos do terreno. Sheila teve a orientação da professora Beatriz Picolotto Siqueira Bueno, do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU.

Imagens cedidas pela pesquisadora

Mais informações: (11) 3822-3773, com Sheila Schneck, ou pelo email shschneck@gmail.com


http://www4.usp.br/index.php/sociedade/20989
Arquivo Histórico Municipal, Bela Vista, bexiga, CONPRESP, FAU, São Paulo



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Manoel Messias Pereira

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