domingo, 25 de março de 2012

Os 90 anos do Partido Comunista Brasileiro - PCB





Jornal do Brasil

Domingo, 25 de Março de 2012



Os 90 anos do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Jornal do Brasil

Rogério Castro

Neste domingo, dia 25 de março, completa 90 anos de existência o Partido Comunista Brasileiro (PCB). O fato de uma organização política cobrir quase todo o século 20 e completar nove décadas de vida falando em renovação, certamente, não será um episódio digno de nota para a maioria dos jornalistas da chamada mídia tradicional. Para estes, cada dia mais o socialismo – bandeira dos comunistas – é assunto do passado; assim como o machado de bronze, foi para o museu da história junto com a ex-URSS. A pouco sedimentada base filosófica da maioria desses articulistas não lhes permite entender que esta não é uma questão de consciência, que se resolve no plano das ideias; não é uma questão puramente ideológica, como gostam de dizer, ainda que para desqualificar os seus propugnadores.



Ainda no século 19, ilustres homens, diante daquelas transformações pelas quais passavam a Europa ocidental, que anunciavam o começo de uma nova era – a modernidade –, levaram as contradições que viam diante de seus olhos às últimas consequências. Viram que proprietários e não proprietários constituem uma antinomia. A existência de um é a condição de existência do outro, assim como a extinção do segundo pressupõe a supressão do primeiro. Proprietários e não proprietários, portanto, só existem mutuamente; só podem existir no interior de uma unidade na qual os dois polos da mesma se determinam reciprocamente. E esta formulação nada mais seria do que a explicação no campo da abstração de toda aquela desordem social reinante – camponeses expropriados de suas terras, trabalhadores adoentados em decorrência das brutais jornadas de trabalho às quais eram submetidos, desempregados, etc. O desenvolvimento desta contradição – isto é, da luta entre esses contrários, essencialmente com interesses opostos – iria, na opinião de alguns deles, desembocar num movimento que acabaria por revogar a contradição entre os dois polos – proprietários e não proprietários – ao revogar o direito de propriedade. A supressão dessa contradição concreta iria ser o solo sobre o qual uma nova sociedade – organizada agora estritamente para satisfazer as necessidades humanas de todos – poderia florescer. A essa sociedade em que não mais existiriam os que trabalham e os que vivem do trabalho alheio, Karl Marx e Friedrich Engels, chamaram de socialismo.



É bem verdade que as tentativas de edificação desta sociedade, ao longo do século 20, foram assaz problemáticas. E as causas – e as explicações – são as mais diversas. Mas, por outro lado, este fato em si não revogou as condições por meio das quais a luta entre os dois polos separados pela propriedade se efetua. Mesmo que esta cesse por um tempo em um ponto, se agudize em outro, a condição de sua existência – isto é, a propriedade – continua a existir, e de modo até bastante dramático, haja vista a brutal concentração de riqueza vigente nos quatros cantos do planeta. A possibilidade da sua supressão, portanto, continua – em potencial – nas mãos dos não proprietários – o outro polo antinômico. Por mais que a pulverização destes nos dias de hoje tenha atingido níveis bastante elevados – e esta seria uma condição para a sua não identificação enquanto classe que compartilha de interesses comuns –, tal fato não o anula enquanto classe, enquanto não proprietários. O catador de latinha, o guardador de carro, o vendedor de cachorro-quente, o ambulante da praia ou o camelô da praça, todos estes, muitos dos quais exilados da economia formal para todo o sempre, constituem, junto com o trabalhador precário do mundo contemporâneo – o operador de telemarketing, o comerciário, bem como o operário da construção civil ou das docas –, os despojados de propriedade que têm como única opção para sobreviver sujeitar-se às condições que lhes são impostas pela condição de propriedade – como a informalidade e todo o seu perverso efeito, o desemprego, etc.



Logo, bem diferente do que a realidade nos mostra, embora nem sempre de modo imediato, a contradição continua viva, e a palavra crise – que nada mais é do que a expressão mais condensada do conflito antinômico mencionado – volta e meia povoa o noticiário, sendo causa de muita dor de cabeça para os políticos – por exemplo – quando estes se veem compelidos a impor ajustes e têm que enfrentar a ira da população de não proprietários quase sempre sacrificada pelas chamadas medidas de austeridade. E é aqui – portanto – que reside a importância deste 25 de março. Como cérebro que precisa e intervém nessa realidade polarizada, com a consciente intenção de desenvolver a antítese vislumbrando no horizonte a supressão da sua existência, que o Partido Comunista Brasileiro precisa ser – neste dia – parabenizado, pela persistência de seus militantes, pela sua história (de erros e acertos, como reconheceu o seu secretário-geral no último programa de TV), que sempre foi e será – como anunciam entusiasticamente seus representantes – a da luta pelo socialismo, sendo este entendido não como um ideal demagógico (como também denunciou seu programa) mas como o terreno sobre o qual ao abolir-se a supremacia do interesse privado, e instaurar-se o reino onde impera exclusivamente a satisfação das necessidades humanas, não deixará apenas de existir a escassez, a miséria, a violência etc mas também tudo aquilo que é intrinsecamente ligado à propriedade – a inveja, a ambição, a usura etc. Estará dada, portanto, a partir do plano concreto, a condição para o surgimento de um novo homem, isto é, para a explicitação total da humanidade do homem com o cessar das desumanidades que carregavam em si o DNA da propriedade.



Rogério Castro é jornalista.





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Manoel Messias Pereira

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