quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O percurso da literatura angolana através da obra dos seus escritores

O percurso da literatura angolana através da obra dos seus escritores


Adriano de Melo
Havana





Adriano Mixinge fez uma retrospectiva analítica sobre a crítica literária numa mesa redonda realizada no pavilhão Cordeiro da Mata

Fotografia: Paulo Damião
Havana

O estado actual da crítica literária em Angola, enquanto elemento decisivo na afirmação da cultura foi analisado na quinta-feira pelo crítico Adriano Mixinge, em Havana, durante uma mesa redonda realizada no âmbito da Feira Internacional do Livro de Cuba.

Para o crítico, a participação de Angola nesta feira é um marco, por representar o relançar de uma interacção histórica, de uma densidade enorme e que ambas as partes têm estado a aproveitar com muito gosto.

“É simpática a forma como os cubanos acolheram os angolanos. Outro ponto essencial é que, no âmbito da pesquisa e interacção, o relacionamento entre os investigadores está a ser frutífera, especialmente por uma razão: actualmente em Cuba está em voga o grande debate sobre a visibilidade das suas origens afro-cubanas”, explicou.

Adriano Mixinge realçou que o facto de Angola ser o primeiro país africano ao qual a feira é dedicada demonstra o interesse dos cubanos em traçar a ponte em busca de segmentos das suas origens, a ioruba e a conga (dos bacongos de Angola). “Portanto, os angolanos vão catalisar o olhar que a sociedade cubana vai ter sobre África, com a vantagem de que é uma imagem moderna do continente africano, porque países como Angola têm estado a desenvolver-se com muita rapidez e os cubanos estão a ver-nos como um possível país estudo de caso”, assegurou.

O orador considerou ainda a mesa redonda como uma breve resenha da crítica angolana, passando por uma análise aos textos de poetas da angolanidade.

“Os textos de Luís Kandjimbo, António Fonseca e Inocência Mata foram, sem sombra de dúvidas, as bases sobre as quais sustentei a minha visão acerca da literatura angolana e, fundamentalmente, dos discursos críticos e a crítica literária que se fez em Angola, ou no estrangeiro, por especialistas portugueses, norte-americanos, brasileiros, franceses e senegaleses, através da obra de escritores angolanos”, disse.

Através destes trabalhos, adiantou, descobriu que no final dos anos 80 questões sobre a luta anticolonial e pela identidade cultural da Nação eram o tema principal da literatura angolana e dos circuitos de legitimação (revistas, editoras e livrarias). “Era um reflexo da situação sociopolítica e económica da época em Angola”, justificou.





Adriano Mixinge destacou ainda que os mais reputados investigadores literários situam o início da história da literatura angolana em meados do século XIX, com a publicação do livro de poemas “Espontaneidades da minha alma”, de José da Silva Maia Ferreira, e chegou à actualidade com “Os transparentes”, a mais recente novela de Ondjaki. “Portanto, a história da literatura escrita angolana tem uns 164 anos.”

O orador frisou que, a seu ver, a crítica literária, enquanto uma das manifestações da crítica da cultura, está muito relacionada com a política, os gostos, a imaginação, valores morais, ideologias, criações artísticas e literárias, assim como a utopia das sociedades e das épocas a que pertencem.

Depois de ter passado dez anos como Conselheiro Cultural na Embaixada de Angola em França, Adriano Mixinge desempenha, desde 2011, as mesmas funções em Espanha. Autor do romance “Tanda” e do livro de ensaios “Made in Angola: arte contemporânea, artistas e debates”, tem textos publicados em revistas como “Museum International e Médianes” (França), “Gestión + cultura e Lápiz” (Espanha), “Angolê” (Portugal). Participou no livro “Anthologie de L’Art Africain du XXéme Siècle” (França) e no catálogo da exposição “El Juego Africano de lo Contemporâneo” (Espanha).

Em Novembro de 2008, organizou o projecto artístico e cultural “Angola, monamour”, exposto no Musée du Quay Branly, em Paris, e, entre 2009 e 2011, esteve na origem da exposição “Angola, figuras de Poder”, realizada no Museu Dapper, também em França.










 Jornal de Angola.








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Manoel Messias Pereira

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