O despertar do mundo árabe , por Milton Fraschetti
09/03/2011
Fonte: Comércio do Jahu
Agosto de 1945, os Estados Unidos arrasam Hiroshima e Nagasaki com duas bombas atômicas e a humanidade entendeu que a partir daí, pelo menos por um bom tempo, a política na face da terra seria ordenada pelos homens da América do Norte. Dezembro de 2010 tem início no mundo árabe, a partir da pequena Tunísia com pouco mais de 10 milhões de habitantes, uma verdadeira avalanche política com profundas consequências na economia mundial. Foi o despertar de povos que, dormitando há séculos sobre a mola propulsora do progresso mundial, o petróleo, entenderam rebelar-se contra soberanos que os mantinham em deplorável estado de subserviência. Em rápidas pinceladas, para que se avalie o que está acontecendo e o que está por vir, 70% dos dólares provenientes da extração do petróleo na África e Oriente Médio não são aplicados em benefício das suas populações, governadas por ditadores. Cerca de 50% dos 80 milhões de barris/dia que são extraídos em todo mundo, são consumidos, pelos USA 22, China 10 e Japão 5 milhões/dia, que dominam a economia mundial. A partir da Tunísia, com a queda do autocrata Zine el Abidine Ben Ali, as pedras vão se tombando sucessivamente como num jogo de dominó e os países do Norte da África e do Oriente Médio são engolfados por movimentos em busca de mais liberdade política e progresso social deslocando o eixo da economia universal. Em janeiro de 2011, outro país africano, a Argélia, foi engolfado em novo movimento com o povo exigindo mais liberdade. Após vários protestos o ministro das relações exteriores comunicou aos argelinos a suspensão do estado de emergência que vigorava a 19 anos, prometendo aos 35 milhões de habitantes medidas liberais. Após as agitações na Tunísia, Argélia e Jordânia os egípcios pegaram em armas e exigiram a saída do presidente Hosni Mubarak que há mais de 30 anos governava o país. Com uma população estimada em 80 milhões, sendo que 20% dela vivem abaixo da linha de pobreza, milhares de egípcios se reuniram na Praça Tahrir (libertação) que foi convertida em campo de guerra para um confronto decisivo com as tropas fiéis ao ditador. Foi uma batalha sangrenta com baixas para ambos os lados até que os rebeldes infligiram pesadas perdas ao ditador. Após novas batalhas Hosni Mubarak aceita o fim do estado de exceção e acena com novas leis eleitorais o que não é aceito pelos insurretos que exigem sua saída do poder em renúncia incondicional. Após 18 dias de protestos o presidente Mubarak entrega o poder ao alto comando militar que, para acalmar a multidão, anunciou medidas para uma fase de transição com eleições gerais marcadas para setembro próximo. O grande receio do mundo ocidental, quanto ao desfecho das contendas no Egito, era que uma nova revolução islâmica arrastasse o país para as hostes do ditador do Irã o que poderia levar a extensa região a um sangrento conflito fundamentado em princípios religiosos. Em fins de janeiro, o Iêmen com 45% dos seus 24 milhões de habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza, viu-se envolto em manifestações sociais pedindo a mudança de governo com a saída do despótico presidente Ali Abdullah Saleh que governa o país há 32 anos. Para o mundo ocidental, principalmente para os Estados Unidos, a permanência de um governante amigo no Iêmen é muito importante para sustentar a luta contra o terrorismo da Al-Qaeda na região. Com a deserção dos líderes tribais que o sustentavam no poder, o presidente Saleh está cada vez mais enfraquecido o que poderá provocar uma guerra fratricida que transformará os protestos por reformas democráticas, em uma desastrosa batalha entre facções religiosas. Após o Iêmen, chegou a vez da Líbia, cujo território, banhado pelo Mediterrâneo, é de capital importância para os ocidentais como uma porta de entrada ao continente africano. Sua economia é baseada na extração de gás e petróleo que alcança a produção de 2 milhões de barris/dia. A recente história da Líbia data dos idos de 1970 quando oficiais islâmicos derrubaram a monarquia e adotaram um regime chamado republicano, mas que desde o início, foi exercido por Muammar Kadaf que até hoje, eliminando seus opositores, governa despoticamente. Em meados de fevereiro, influenciados pelos movimentos em prol de mais liberdade política, os líbios empunharam armas contra o ditador que não hesitou em massacrar com violentos ataques aéreos os insurretos. Os EUA preocupados com a disseminação da rebeldia que a cada dia envolve mais países, reposicionaram sua quinta frota naval no Mediterrâneo e para evitar um estúpido massacre dos rebeldes, se propõem a comandar uma zona de exclusão aérea na Líbia, o que, em outras palavras, significaria uma declaração de guerra à Kadaf. Voltando às considerações iniciais, quando o poderio político estava nas mãos dos EUA, hoje, ou talvez amanhã, o mundo necessitará, para manter uma economia sustentável, de uma nova fonte de energia, que poderá, entre outras, ser a elétrica originária das termonucleares, o que nos aconselha a preservarmos o urânio que Deus deu ao Brasil e reservar ao petróleo uma utilização mais nobre através da petroquímica.
Milton Fraschetti é professor, ex-vereador e ex-secretário municipal.
©UN | Plugar Informações Estratégivas S.A
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