Há oito décadas foi publicado o primeiro romance policial do escritor belga Georges Simenon (1903-1989) tendo como personagem central o comissário francês Jules Maigret, Maigret e o Finado sr. Gallet
Busto do escritor Georges Simenon na cidade de Liège, na Bélgica
Antes da criação do comissário Jules Maigret, o homem comum tinha um destino certo nos romances policiais: ser a vítima. No melhor dos casos, o amigo pouco inteligente do detetive. Jamais seria o herói da trama.
Coube ao escritor belga Georges Simenon (1903-1989) quebrar essa tradição, em fins de fevereiro de 1931, com Maigret e o Finado sr. Gallet, romance que lançou oficialmente a série Maigret.
A edição brasileira mais recente do livro, publicada pela editora L&PM em 2010, tem apenas 174 páginas. Foi o suficiente para criar um marco no gênero.
O francês Jules Maigret, corpulento, fumante de cachimbo, calado, de ar geralmente enfastiado, é um personagem raro nas histórias policiais.
Não é um detetive particular nem um amador curioso. Funcionário da Polícia Judiciária francesa, parece mais um típico funcionário de uma repartição pública.
Também não é um “gênio’’, capaz de deduções mirabolantes e inesperadas, tal como Sherlock Holmes e Hercule Poirot, criações de Conan Doyle e Agatha Christie, respectivamente. “Não sei absolutamente nada’’, diz com frequência. Tampouco faz o estilo “tira durão’’ e violento que os americanos (Raymond Chandler, Dashiell Hammet) souberam criar tão bem.
E, heresia das heresias nos livros policiais, no fim de um dia de trabalho ele quer mesmo é voltar para casa e comer a boa comida preparada pela esposa, a senhora Maigret.
Comparado aos ilustres detetives que o antecederam, Maigret pode parecer um tanto banal. O talento de Simenon foi fazer dessa “deficiência’’ o encanto de seu personagem.
“Jules Maigret não fala muito, ele ouve as pessoas, é um detetive psicológico. Ele muitas vezes sente pena dos culpados e seu lema é “compreender e não julgar’’’, disse Pierre Assouline, biógrafo de Simenon. Com esse olhar compreensivo, que nada parece espantar, Maigret esclarece os mais escabrosos casos, ainda que nem sempre o resultado seja satisfatório.
No primeiro livro da série, a missão do comissário é investigar o respeitável caixeiro-viajante Émile Gallet, o tal finado do título. Aparentemente, Gallet foi esfaqueado e teve a bochecha esquerda arrancada por um tiro (Simenon também sabia ser macabro).
É a vítima, evidente. Algumas páginas adiante, porém, descobriremos que era também um pequeno vigarista. Um crime é apenas “uma história banal de gente sem importância’’, já escreveu certa vez Simenon.
Nos 75 romances e vários contos que protagonizou, Maigret depara-se com a questão: descobrir a verdade nem sempre equivale a solucionar o caso. É claro que, acima de tudo, o que fez a fama da série foi o talento literário de Simenon. Surpreende que tenha conseguido conciliar qualidade e rapidez ao longo de toda a carreira.
Além da saga Maigret, publicou mais outros 117 romances e 21 volumes de memórias, além de contos. “Como pode ser tão rápido e tão bom?’’, espantavam-se seus fãs. Entre eles, artistas do quilate do cineasta Jean Renoir e dos escritores André Gide e T.S. Eliot.
Maigret só não conseguiu convencer a si próprio. Se na juventude imaginava ganhar o Nobel quando completasse 45 anos, na velhice dizia-se “envergonhado’’ de tudo o que escrevera. Reação parecida à de Chandler, Hammet e de outros mestres do romance policial, que no fim da vida diziam-se arrependidos de praticar o gênero. (Marco Rodrigo Almeida, da Folhapress)
SAIBA MAIS
Vida
George Simenon nasceu em 12 de fevereiro de 1903, em Liège, na Bélgica. Filho mais velho de Désiré (pai que idolatra e que serviria de inspiração a Maigret) e de Henriette (com quem sempre teve uma relação conturbada), vive na França, Estados Unidos e Suíça. Morre 4 de setembro de 1989, aos 86 anos.
Jornalismo
Aos 15 anos começa a trabalhar como repórter policial da Gazzete de Liège. Três meses depois passa a assinar a coluna diária Hors du Poulailler (fora do galinheiro)
Sexo
Afirmava ter dormido com 10 mil mulheres. Já Denise, com quem foi casado, dizia que foram apenas 1.200.
Obra
Publicou mais de 200 romances com o próprio nome, e pelo menos a mesma quantidade com 18 pseudônimos.
Cinema
55 filmes foram inspirados em seus livros. O primeiro deles foi La Nuit du Carrefour (1932), dirigido por Jean Renoir. Pierre, irmão do cineasta, interpretou Maigret no longa.
Atores
Grandes atores viveram Maigret no cinema, como Jean Gabin e Charles Laughton.
Maigret
O comissário francês protagonizou 75 romances e 28 contos. O primeiro livro, Maigret e o Finado sr. Gallet, foi publicado em 1931. Maigret e o Sumiço do sr. Charles, de 1972, foi o último. Entre os principais estão Maigret e o Ladrão Preguiçoso, Maigret e seu Morto e Maigret e o Corpo sem Cabeça.
Rapidez
Entre as décadas de 20 e 70, escreveu uma média de quatro a cinco livros por ano.
Sucesso
Estima-se que tenha vendido em todo o mundo mais de 500 milhões de exemplares, em 55 línguas.
Filho.
Teve quatro. Marie-Jo, a única mulher, matou-se aos 25 anos
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