quinta-feira, 17 de março de 2011

Poesia em meio à polêmica



Poesia em meio à polêmica
17/03/2011
Fonte: O Tempo (MG)

Maria Bethânia chega amanhã a Belo Horizonte em meio ao fervor da polêmica causada por ter recebido do Ministério da Cultura (MinC) a autorização para captar R$ 1,3 milhão para a criação do site O Mundo Precisa de Poesia. Ela vem justamente para apresentar, no Teatro Dom Silvério, a leitura "Bethânia e as Palavras", na qual recita trechos de poetas e prosadores de língua portuguesa. A notícia sobre o MinC colocou a cantora entre os assuntos mais comentados das redes sociais ontem e provocou respostas indignadas de quem considera o valor muito alto para ser entregue a uma artista já consagrada. É a segunda vez que Bethânia se vê envolvida em um caso assim. Em 2008, seu pedido para captar R$ 1,8 milhão para a turnê que faria com a musa cubana Omara Portuondo foi rejeitado pela área técnica do MinC, mas o então ministro Juca Ferreira reverteu a decisão e autorizou a captação de R$ 1,5 milhão. A pergunta que mais se ouvia na época era sobre por que duas divas como elas precisariam de patrocínio público. O novo projeto prevê um site dedicado à poesia e atualizado diariamente, ao longo de um ano, com vídeos filmados por Andrucha Waddington (diretor do DVD "Dentro do Mar Tem Rio" e do documentário "Pedrinha de Aruanda", ambos com Bethânia), nos quais a cantora vai interpretar poemas e trechos de prosa. Indagada sobre a postura de Bethânia diante da polêmica e sobre o orçamento alto para um site que funcionará como blog, a assessoria da cantora respondeu ao Magazine, na tarde de ontem, que a cantora ainda não havia recebido a aprovação oficial do ministério e que o projeto está "dentro dos padrões de cachê do MinC". "Se Bethânia vai conseguir patrocínio desse montante ou não, é outra história. O blog ainda nem existe", informa a assessoria. Íntima. Alheio à confusão iminente, o público belo-horizontino há dias esgotou os ingressos para "Bethânia e as Palavras". Na essência, a proposta é a mesma do blog, mas realizada ao vivo em um ambiente intimista. Bethânia nem o chama de "espetáculo", mas de "leitura", e a compara às que faz em casa de amigos. "Ler é um prazer só. E muito pequeno, muito íntimo. É meu exercício de delicadeza", disse a cantora à reportagem, por telefone, um dia antes da polêmica do MinC se instaurar. Intérprete com impressionante presença de palco, pronta a dominar um grande teatro que se cala ao som de sua voz, Bethânia faz dessa leitura um encontro mais próximo tanto com o público quanto com a literatura. Esta, aliás, sempre esteve presente em seus shows, entremeada às canções em leituras de versos de autores como Fernando Pessoa - o alardeado "poeta da sua vida", com predileção pelo seu heterônimo Álvaro de Campos. "Mas tem longos momentos da minha vida em que sou mais o (Alberto) Caeiro", diz a cantora. O projeto de leitura nasceu, por coincidência, em Belo Horizonte, há dois anos, durante um ciclo de conferências na UFMG, denominado Sentimentos do Mundo. "É a mesma leitura que eu fiz daquela vez, só que se desenvolveu. Coloquei dois músicos, um maestro e um percussionista, com violão, viola caipira, pandeiro e tamborzinho, para uma ilustração musical", conta. A atenção, no entanto, vai toda para a artista e sua maneira particular de interpretar a poesia e a prosa poética dos escritores escolhidos, como Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Padre Antonio Vieira, o moçambicano José Craveirinha e o irmão Caetano Veloso. Bethânia lê, mas não resiste a cantar também. "Sempre cantei na leitura, mesmo quando fazia à capela, sem músico nenhum. A música me conduz. Existe dentro de toda leitura uma melodia e um ritmo que delineiam o sentimento", diz. No caso da leitura, essa guia dramatúrgica foi concebida com a colaboração do diretor de teatro Fauzi Arap. Mas não chega a ser uma encenação, apenas uma lógica condutora, como a que há em seus shows. "Se não tiver uma condução rítmica e de sentimento, não adianta que não vou. Meus espetáculos sempre têm essa assinatura de teatro e da dramaturgia". Defensora. Por mais que a polêmica tenha razão de ser, em um país em que os recursos para a cultura parecem seguir a mesma lógica de desigualdade que rege todos os outros campos da sociedade, ela não deveria encobrir a rara defesa que Bethânia faz da poesia - disseminando o gênero pelo país ao vivo e, ao que parece, no futuro site. "Digo isso no meu texto de abertura: Está louca, ler poesia? Poesia ofende um pouco hoje, mas é imprescindível, sempre teve seu lugar e sempre terá". AgendaAgenda O que: "Bethânia e as Palavras" Quando: Sexta e sábado às 21h e domingo, às 19h Onde: Teatro Dom Silvério (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi), 3209-8989 Quanto: Ingressos esgotados







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Manoel Messias Pereira

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