Nunca me dei conta de que estavas morto.
Fiz teu prato todas as noites e
te servi sobre a mesa da cozinha,
Paguei a última cota do relógio que penhoraste,
Cerzi tuas meias puídas, anotei os teus falsos recados,
Preguei na tua camisa, entre os botões, o que faltava,
Lavei as manchas do chão que pisaste embriagado,
Sob as cobertas ardi, das febres que consumaste,
Curei as tuas feridas com as sobras do que me davas.
Agora partes, súbito e covarde
sem olhar pra trás.
Me deixas de consolo um anel de falso ouro
um prato sujo
e uma dívida de bar.
Já vais tarde.
Acabaste de perder o teu enterro
e o teu fantasma
já está sentado lá na cozinha
esperando pelo jantar.
Sônia Wendt Nabarro
poetisa brasileira
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