domingo, 10 de fevereiro de 2013

O roçado de Milho

Caminho da saída de Opopêo

No compasso binário
dos braços do vento
as facas do milharal
fazem a sua dança matinal.
Atrás de muros de pedras
retomam uma luta inacabada
e se cruzam e batem
umas contra as outras,
folhas de uma roça guerreira
coroadas na cabeça de flores
que sob o sol de outubro
derramam o pólem das espigas.
Não há mortos e nem feridos
nessas batalhas de todos os dias.
Quem um dia for ao outro lado do lago de Pátzcuaro
e chegar no puelbo tarasco do egido de Napítzaro,
quando entrar na igreja dos seus santos
e quiser orar a um deus em que a sua alma crê,
não olhe em nenhuma das imagens que há por lá.
Olhe para o teto da Igreja, para as madeiras da mata
que um dia os homens do pueblo armaram debaixo do telhado.
Pois se um Deus há e vaga pelo mundo em busca dos homens,
ele existe no trabalho solidário
que torna sagrada a igreja e o seu teto.



Carlos Rodrigues Brandão

professor de antropologia,  poeta
Movimento de Educação Popular(Unicamp)

Rio de Janeiro - Brasil

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Manoel Messias Pereira

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