Instituto Shoah reúne 12 mil documentos sobre o Holocausto
Por Valéria Dias -
Uma parceria entre o Laboratório de Estudos da Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da USP e a entidade judaica B’nai B’rith do Brasil possibilitou a criação, no último mês de dezembro, do Instituto Shoah de Direitos Humanos (ISDH). O Instituto, que surge como um departamento da entidade judaica, vai administrar um acervo inicial com cerca de 12 mil documentos sobre o Holocausto reunidos nos últimos anos por pesquisadores do LEER.
São documentos oficiais, biblioteca, testemunhos de sobreviventes e objetos doados por aqueles que buscaram refúgio no Brasil fugindo do nazismo, como fotografias, passaportes, diários. O convênio entre a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e a B’nai B’rith do Brasil deve ser assinado em breve.
Desenho de Federico Freudenheim do trajeto percorrido por sua família de Berlim até Montevidéo, em 1938
“A missão do Instituto Shoah de Direitos Humanos é, tendo o Holocausto como referência histórica, pesquisar, informar e educar sobre os perigos do racismo, da xenofobia e do negacionismo que, nestes últimos anos, tem proliferado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, atuando, assim, em prol de uma cultura de paz e tolerância”, destaca Abraham Goldstein, presidente da B’nai B’rith Brasil.
A professora Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do LEER, conta que, nos últimos anos, cresceu o número de pesquisadores que procuravam o Laboratório interessados em desenvolver trabalhos sobre o tema tendo como fonte de pesquisa o Arquivo Virtual do Holocausto (Arqshoah), projeto do LEER e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). E também de professores em busca de material didático, em razão das Jornadas Interdisciplinares para o Ensino do Holocausto, atividade oferecida a docentes do ensino fundamental e médio a partir de parceria entre a B’nai B’rith e o LEER.
Iniciadas em São Paulo, as Jornadas evoluíram para o Rio de Janeiro, Niterói, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. Em 2012 foram cerca de 1.200 educadores reunidos somente em São Paulo. “Decidimos formar o Instituto Shoah de Direitos Humanos ao constatarmos a evolução e aceitação desse programa e a oportunidade de ampliá-lo para outras cidades, além de complementá-lo com outras formas de expressão, como teatro, música e literatura”, afirma Goldstein. Com o Instituto, todas as ações de pesquisa e divulgação da história do Holocausto serão intensificadas.
Lola Anglister deu testemunho para o projeto. A tatuagem feita durante sua permanência em Auschwitz
Ainda em 2013, o Instituto pretende implantar programas como oficinas e workshops (teatro, música e literatura) para a reciclagem de educadores; além de colóquios, simpósios, encontros de gerações, cursos e exposições iconográficas para a divulgação e debate sobre o Holocausto, intolerância e direitos humanos.
Adote um bolsista
Outra iniciativa é o Projeto Adote um Bolsista. “A ideia é captar recursos com empresários e pequenos doadores para que haja o financiamento, durante um ano, de bolsistas que irão realizar pesquisas sobre o Holocausto, antissemitismo e direitos humanos, com possibilidade de abatimento em imposto de renda”, explica a professora.
Outra vertente são ações envolvendo relações internacionais com instituições e órgãos governamentais que também atuam em favor da construção de uma cultura voltada para a paz e a tolerância.
Partisans nos bosques poloneses onde toda a família de Szymon Brand sobreviveu e resistiu aos nazistas
Há ainda o projeto Da tragédia à realidade: a arte dos judeus refugiados no nazisfascismo, que pretende mapear as obras originais (esculturas, pinturas, fotografias) de artistas judeus, hoje sob a guarda de museus de São Paulo. A equipe do Arqshoah já está preparando o mapeamento, além de registrar testemunhos de artistas como Walter Levy, Alice Brill, Agi Strauss, Arpad Zsenes, Erich Brill, Axl Leskoschek, Franz Karjsberg, Fayga Ostrower, Franz-Josef Weissmann, Gerda Brentani, Holde Weber, dentre outros.
Para 2014, está prevista a exposição Movimento Áustria Livre: a resistência ao nazismo, que trata dos protestos ocorridos no Brasil contra a ocupação da Áustria em 1938 pelos nazistas. “O movimento dos austríacos que moravam no Brasil foi uma reação política à ocupação”, conta Maria Luiza. Ela diz que vários dos resistentes foram fichados pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops). O evento inclui seminário, exposição e lançamento de livro em parceria com a Embaixada da Áustria no Brasil, Arquivo Público do Estado e Arquivo da Resistência de Viena.
Muito mais que um museu
Segundo Maria Luiza, “o Instituto é mais que um museu: além de arquivo físico, com material histórico sobre a trajetória dos sobreviventes do Holocausto radicados no Brasil, haverá um centro educativo, com ações direcionadas para a reciclagem de professores, tendo como proposta a educação em Direitos Humanos”.
Cartão de identificação de Johanna Priester Schwarz como sobrevivente do campo de Bergen-Belsen
Abraham Goldstein completa: “Existem, pelo mundo, diversas Instituições e Museus sobre o tema. No Brasil, ano passado, foi inaugurado em Curitiba o Museu do Holocausto. Já o ISDH tem o objetivo de agir de forma pró-ativa, implementando estratégias multidisciplinares direcionados para a produção de conhecimentos e a conscientização da população brasileira dos perigos da proliferação de ideias racistas”.
Interessados em doar material sobre o Holocausto e recursos (Lei Rouanet) devem entrar em contato pelos emails malutucci@gmail.com, com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro ou agoldstein51@gmail.com, com Abraham Goldstein. O Instituto Shoah fica na Rua Caçapava, 105, 4ºandar, Jardins, São Paulo.
Imagens cedidas pelo acervo do Instituto Shoah de Direitos Humanos
Mais informações: email brasil@bnai-brith.org.br e leer@usp.br. Site: www.arqshoah.com.br
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Palavras chave
Arqshoah, B’nai B’rith, FFLCH, Holocausto, Instituto Shoah, Instituto Shoah de Direitos Humanos, LEER, nazismo, paz, tolerância
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