quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

História de São Paulo

HISTORIANET
Temática - História de São Paulo
Prof Claudio Recco

INTRODUÇÃO

As comemorações dos 450 anos da cidade de São Paulo, que se desenvolveram por todo ano de 2004, determinaram uma reflexão maior sobre a história da cidade. Uma história que se confunde constantemente com a história do próprio estado de São Paulo e, em alguns momentos, com a própria história do Brasil.
Esse texto é uma pequena retrospectiva, destacando alguns momentos importantes.

PRIMÓRDIOS

A expedição comandada por Martin Afonso de Souza partiu de Portugal em dezembro de 1530, com duas missões, percorrer o litoral brasileiro em busca de novas riquezas e iniciar a colonização das terras. No início de 1532 o grupo comandado por Martin Afonso chegou a São Vicente, onde pretendiam executar a última etapa de sua missão. Entre as diversas razões da escolha estão o clima, o fato de existirem portugueses na região - João Ramalho e Antonio Rodrigues - e ter-se iniciado uma tentativa para se atingir as minas de prata do Peru.

A Vila de São Vicente foi fundada em 1532, antes mesmo da distribuição das Capitanias Hereditárias pelo rei, que dois anos mais tarde a manteria com Martin Afonso. A prosperidade de São Vicente esteve vinculada a produção canavieira e a ajuda financeira do Estado português, no entanto, a partir de 1549, com a instalação do governo geral na Bahia e o aumento da produção de açúcar no nordeste, a capitania tornou-se secundária.
Em 25 de janeiro de 1554, os padres jesuítas Nóbrega e Anchieta fundaram o Real Colégio de São Paulo, fato que contou com a importante colaboração de João Ramalho. Ao redor do Colégio se desenvolveu uma pequena vila que, aos poucos, foi recebendo grupos marginalizados que chegavam de São Vicente e procuravam terra para se fixar.

BANDEIRISMO




Aquarela de Eduard Hildebrant, 1844

Essa "vocação interiorana" era alimentada por uma série de condições geográficas, econômicas e sociais. Separada do litoral pela muralha da serra do Mar, São Paulo voltava-se para o sertão, cuja penetração era facilitada pela presença do rio Tietê e de seus afluentes que comunicavam os paulistas com o distante interior. Além disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua população crescera muito. É que boa parte dos habitantes de São Vicente haviam migrado para lá quando os canaviais plantados no litoral por Martim Afonso de Sousa entraram em decadência, já na segunda metade do século XVI, arruinando muitos fazendeiros.
No final do Séc. XVI, começou um movimento para o interior, pois o Governo Geral deu impulso à busca de ouro e prata, dando um caráter oficial às bandeiras. E ainda, após choques com os colonos, os jesuítas fundaram missões (reduções) no interior. Isso despertou a cobiça dos bandeirantes, pois existiam milhares de nativos acostumados ao trabalho agrícola, muito mais valiosos que os 'índios bravos'. Dessa forma começaram a atacar as reduções.
Em 1580 se iniciou a "União Ibérica", fato que ampliou os choques de interesses entre grupos de portugueses e espanhóis; foi nesse quadro que a atividade bandeirante se desenvolveu, caracterizada principalmente pela preação do índio, principalmente nos grandes aldeamentos de jesuítas, em especial os aldeamentos de espanhóis, em regiões do interior como Guairá, Itatim e Tape, próximas aos rios da Bacia do Prata.
A partir de 1619, os bandeirantes intensificaram os ataques contra as reduções jesuíticas, e os artesãos e agricultores guaranis foram escravizados em massa. No entanto, muito antes de surgirem os primeiros aldeamentos na bacia do Prata, os paulistas já percorriam o sertão, buscando na preação do indígena o meio para sua subsistência.
As reduções organizadas pelos jesuítas no interior do continente foram, para os paulistas, um presente dos céus: reuniam milhares de índios adestrados na agricultura e nos trabalhos manuais. No século XVII, o controle holandês sobre os mercados africanos, no período da ocupação do Nordeste, interrompeu o tráfico negreiro. Os colonos voltaram-se então para o trabalho indígena. Esse aumento da procura provocou uma elevação nos preços do escravo índio, considerado como "negro da terra", e que custava, em média, cinco vezes menos que os escravos africanos
Embora a caça ao índio tenha ocupado a atenção dos bandeirantes até meados do século XVII, desde os primeiros tempos da colonização houve tentativas de descobrir metais preciosos no sertão brasileiro. Ouro e prata eram, na verdade, a primeira coisa que os europeus procuravam em toda parte no período das grandes navegações
Ao final do período de União Ibérica, São Paulo viveu um movimento social inusitado, uma revolta, caracterizada como "nativista" e que passou para a história como "Aclamação de Amador Bueno como Rei de São Paulo". A noticia da restauração portuguesa, chegada a São Paulo apenas em 1641, fez com que grupos de espanhóis que viviam na região estimulassem um movimento popular que pretendia negar os direitos do novo soberano de Portugal sobre a região, aclamando Amador Bueno, de origem espanhola, como Rei de São Paulo. O próprio Amador Bueno recusava o título e a revolta perdeu força devido a ação dos padres beneditinos da cidade.

ALARGAMENTO TERRITORIAL


A partir de 1700, é iniciado no Brasil um processo de alargamento de suas fronteiras com o objetivo de dominar e exterminar os indígenas e as missões dos jesuítas espanhóis, mapeamento do território brasileiro, mineração de ouro e esmeraldas além de outros metais e pedras preciosas, e obtenção de mão-de-obra escrava. As Entradas e Bandeiras surgiram predominantemente em um período em que o Brasil já contava com inúmeros centros populacionais espalhados pelo seu territórios. Os movimentos originaram-se no nordeste para a região do amazonas e posteriormente para o centro do país. Por outro lado, as Bandeiras partiram de São Vicente, em São Paulo, em direção ao Rio Grande do Sul, além de incursões pela região Centro-Oeste. O movimento de Entradas antecedeu às Bandeiras, e ambos possuíram características diversas entre si.

Um dos efeitos mais importantes do bandeirismo de prospecção foi a descoberta das regiões "das minas gerais" que, já no início do século XVII passou para administração direta da metrópole, onde os interesses dos portugueses se tornaram predominantes. Os mineradores individuais, normalmente de origem paulista, denominados faiscadores se mantiveram a margem das grandes propriedades e do processo de enriquecimento. Tal situação foi responsável por inúmeros conflitos entre portugueses e paulistas, destacando-se a Guerra dos Emboabas. Derrotados, os paulistas deslocaram-se através do rio Tietê e afluentes, em busca de outras áreas de mineração, ocupando regiões mais a oeste, em um movimento denominado de "monções", responsável pela ocupação de territórios de Goiás e mato Grosso, se tornaram principalmente rotas de abastecimento.
O século XVIII portanto foi caracterizado pela diminuição gradual da atividade bandeirante, devido a maior presença da burocracia portuguesa na região, ao desenvolvimento da mineração e a manutenção do escravismo africano sob controle português. Ao mesmo tempo, conforme as regiões mineradoras se desenvolviam, suas necessidades de alimentos e animais aumentavam, fato que possibilitou a atividade criatória no sul da colônia, fazendo de São Paulo ponto de passagem de animais para Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Muitas cidades surgiram no interior, onde se destacou a feira de Sorocaba. Na capital a passagem das tropas, ou mesmo o comércio de animais se tornou intenso
Entre os séculos XVIII e XIX São Paulo teve sua importância reduzida, dada a decadência da produção aurífera. Somente em meados do século é que a região voltaria crescer com o desenvolvimento da cafeicultura.

O CAFÉ



Trazido ao Brasil no início do século XVIII, ocupou primeiramente as terras do Ceará. Posteriormente, na década de 80, foi introduzido no Rio de janeiro, de onde seu cultivo se irradiou para São Paulo e Minas Gerais. Penetrando pelo vale do rio Paraíba, a mancha verde dos cafezais, que já dominava a paisagem fluminense, chegou a São Paulo, que, a partir da década de 1880, passou a ser o principal produtor nacional da rubiácea (café). Na sua marcha foi criando cidades e fazendo fortunas.
Foi no oeste paulista que a produção de café alcançou seu apogeu, em parte devido a terra roxa, a facilidade de comunicação e a existência do porto de Santos. O desenvolvimento da cafeicultura no interior foi fundamental para o desenvolvimento da cidade de São Paulo. São Paulo era a capital da província, portanto centro político e, ao mesmo tempo, era ponto de partida para o Rio de Janeiro e para Santos. Dessa maneira tornou-se o centro não só de decisões, mas principalmente centro financeiro. A cidade enriquecia graças ao desenvolvimento da cafeicultura. Esse enriquecimento se refletiu na instalação de casas bancárias e de câmbio na cidade, de onde proveriam os empréstimos para a atividade industrial e de serviços.
Em meados do século XIX, enquanto os países capitalistas desenvolvidos viviam o contexto da Segunda Revolução Industrial, o Brasil apresentava alguns avanços sócio-econômicos, responsáveis pela transição da monarquia para república. O processo abolicionista e o crescimento de atividades urbanas, tornavam o regime monárquico cada vez mais obsoleto.

O café, base de nossa economia, ao mesmo tempo em que preservava aspectos do passado colonial (latifúndio, monocultura e escravismo), tornava nossa realidade mais dinâmica, estimulando a construção de ferrovias e portos, além de criar condições favoráveis para o crescimento outros empreendimentos como bancos, atividades ligadas ao comércio interno e uma série de iniciativas empresariais. A aprovação da tarifa Alves Branco, que majorou as taxas alfandegárias, e da lei Eusébio de Queirós, que em 1850 aboliu o tráfico negreiro liberando capitais para outras atividades, estimularam ainda mais os negócios urbanos no Brasil, que já contava com 62 empresas industriais, 14 bancos, 8 estradas de ferro, 3 caixas econômicas, além de companhias de navegação a vapor, seguros, gás e transporte urbano. Nesse verdadeiro surto de desenvolvimento, destaca-se a figura de Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, principal representante do incipiente empresariado brasileiro, que atuou nos mais diversos setores da economia urbana.
Apesar de um início que parecia promissor, a “era Mauá” não conseguiu durar muito tempo. Suas iniciativas modernizadoras encontravam um forte revés na manutenção da estrutura colonial agro-exportadora e escravista e na concorrência com empreendimentos estrangeiros, principalmente ingleses. Esses, inescrupulosos pelo lucro, não mediam esforços, praticando as mais violentas sabotagens contra o empresário brasileiro, como o incêndio provocado que destruiu a Ponta de Areia em 1857. Outro fator que contribuiu para impedir a consolidação das iniciativas de Mauá, foi a reformulação da tarifa Alves Branco pela tarifa Silva Ferraz em 1860, que reduziu as tarifas alfandegárias para máquinas, ferramentas e ferragens, favorecendo os interesses do capital estrangeiro.
Para os setores mais conservadores do governo, o vanguardismo empresarial de Mauá associado ao seu posicionamento liberal e abolicionista, era visto como uma ameaça. Sua posição contrária à Guerra do Paraguai (1864-1870), criou mais inimizades no governo. Abandonado pelo próprio imperador, Mauá vê-se obrigado cada vez mais a se associar com os empresários britânicos, resultando na falência ou venda de suas empresas por preços reduzidos.
Não resta dúvida de que a manutenção de características coloniais, com base no latifúndio monocultor escravista, representavam um sério obstáculo para o progresso urbano-industrial. O crescimento do processo abolicionista e o fortalecimento da nova oligarquia não-escravista do oeste paulista, trabalhavam em detrimento do regime monárquico e dos interesses a oligarquia escravista.
Apesar da predominância dos interesses agrários no país, devemos entender o desenvolvimento do Brasil dentro do desenvolvimento da economia mundial, e levar em consideração principalmente os interesses e pressões inglesas. Desde o início do século XIX a Inglaterra pretendia a redução e eliminação do tráfico negreiro para o Brasil. Depois de tratados e atritos, o tráfico de escravos foi suprimido pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850. O fim do tráfico ocorreu em um momento de expansão da lavoura cafeeira, criando um problema para os novos fazendeiros, que precisam de maiores quantidades de trabalhadores. Nas décadas seguintes o número de imigrantes, notadamente italianos, que chegaram ao Brasil para trabalhar na lavoura cafeeira, será responsável por uma das características marcantes de São Paulo, a diversidade de grupos estrangeiros. Cabe ressaltar que um número expressivo de imigrantes italianos chegou a São Paulo nas décadas de 80 e 90, portanto no final do século, apesar do pioneirismo do senador Vergueiro, que havia trazido imigrantes para trabalhar em sua fazenda de café em 1848. Apesar da importância desse pioneirismo, associado a um novo sistema de trabalho, denominado "parceria", o caso de Vergueiro foi uma importante exceção.

A REPÚBLICA DO CAFÉ

O antagonismo do novo (urbano-industrial e abolicionista) com o arcaico (agro-exportador e escravista), associado a outras questões estruturais, como as restrições que a igreja e o exército passam a fazer ao centralismo monárquico, determinam a passagem da monarquia para república, através de um golpe de Estado, articulado pela aristocracia rural e pelo exército no dia 15 de novembro de 1889.
Para finalizar esse momento histórico, vale destacar o apoio (meramente circunstancial) da oligarquia tradicional escravista ao movimento republicano. Essa aparente contradição, deve-se ao fato do regime monárquico ter abolido a escravidão sem indenização para os proprietários de escravos, que percebendo a inevitável morte da monarquia, ingressaram de maneira oportunista no movimento republicano, visando participar do novo governo e garantir seus privilégios de classe.
Os cafeicultores paulistas governam o Brasil. Muitos dizem que o "café com leite" era o governo de São Paulo e Minas. Quase isso. Era o governo dos cafeicultores paulistas, aliados aos cafeicultores mineiros (mais tarde pecuaristas), ou seja, era o governo das elites agrárias. No caso de São Paulo, as elites que concentravam suas terras no oeste e que desde o final dos tempos monárquicos havia se organizado no Partido Republicano Paulista, o PRP.
A influência do PRP sobre o poder pode ser percebida praticamente desde a Proclamação da República. Apesar das contradições que marcaram esses dois primeiros governos do Brasil republicano, e de, muitos pretenderem a continuidade do "poder militar", a renúncia de Deodoro e a retirada de Floriano, mostram a força dos grandes cafeeicultores e de setores ligados a exportação. Esa força se mostrava crescente desde a proclamação da República e era percebida também entre os políticos civis: a política "industrialista" de Rui Barbosa, baseada no emissionismo, encontrou forte oposição das oligarquias, principalmente a paulista.
Apesar do forte controle exercido pelo poder central, as oligarquias estaduais tinham importância no mecanismo de sustentação política. No entanto, a maior contradição do período não estava na relação envolvendo as oligarquias centrais e regionais e sim os interesses rurais e os interesses urbanos. O desenvolvimento da produção e exportação de café foi responsável - desde o final do século anterior - pela acumulação de capitais, que foram investidos em diversas atividades econômicas, em especial na indústria, que, em um primeiro momento, tinha como função sustentar a sociedade cafeeira. È certo que o país não possuía um projeto de industrialização, ao contrário, enquadrava-se na "divisão internacional do trabalho", segundo o desenvolvimento do modelo expansionista e imperialista dos países europeus e EUA

A INDUSTRIALIZAÇÃO

Com os capitais gerados pela economia cafeeira a indústria paulista se desenvolveu, mesmo que lentamente, intensificando a vida urbana. No entanto, no período da I Guerra Mundial (1914 - 18) o número de indústrias aumentou assim como a produtividade, num processo conhecido como "substituição de importações", uma vez que a indústria européia e estadunidense se concentraram na produção de guerra, forçando o Brasil a maior produção nas áreas têxtil e de alimentos (note que, apesar do termo "substituição de importações", a indústria nacional não produzirá o que até então comprava).
A agitação caracterizava o cotidiano da cidade de São Paulo em julho de 1917, marcada pela greve geral que paralisou completamente a capital paulista, explicitando o choque entre o operariado - liderado principalmente pelo movimento anarquista - e o Estado oligárquico - através de um forte aparato repressivo. Primeiro grande movimento grevista da história sindical no Brasil que paralisou a cidade de São Paulo em 1917, iniciou-se com greves localizadas em fábricas têxteis, ainda no mês de junho nos bairros da Moóca e do Ipiranga. Os líderes grevistas reivindicavam melhores salários e melhores condições de trabalho, além da exigência de supressão da contribuição “pró-pátria” (campanha de apoio financeiro à Itália, desenvolvida pela burguesia imigrante de São Paulo, chegando até a fazer descontos dos salários dos trabalhadores, como foi o caso do Cotonifício Crespi). As manifestações de rua foram duramente reprimidas pela polícia, culminando com o assassinato do sapateiro anarquista Antonio Martínez. Durante um mês a cidade de São Paulo viveu a agitação dos comitês de greves, que apesar de mostrar uma considerável capacidade de mobilização do operariado, não serviram para sensibilizar o Estado.
Ao longo de toda República Velha (1889-1930) os governos oligárquicos tratavam a questão social como “caso de polícia”, preferindo assim, adotar medidas arbitrárias, como espancamento e prisão das lideranças grevistas e expulsão dos estrangeiros do país.
Se durante a República Velha a classe operária se organizou de forma independente, não podemos dizer o mesmo sobre o período seguinte, a "Era Vargas".

O MODERNISMO


Ainda na década de 20, refletindo a intensa urbanização e industrialização de São Paulo, realizou-se no Teatro Municipal a Semana de Arte Moderna. Era o ano de 1922 e uma nova vanguarda se consolidava na cidade. Essa vanguarda começou a aparecer anos antes, com Oswald de Andrade em 1912, recém chegado da Europa e com a exposição de Anita Malfati em 1917, que foi duramente atacada por Monteiro Lobato em famoso artigo no jornal O Estado de São Paulo. O artigo demolidor serve, entretanto, par que os jovens "futuristas" brasileiros, até então dispersos, isolados em pequenos agrupamentos, se unam em torno de um ideal comum: destruir as manifestações artísticas que remontavam ao século XIX, especificamente, no caso da literatura, o parnasianismo poético, medíocre e superado. Neste sentido, a exposição de Anita Malfatti funciona como estopim de um movimento que explodiria na Semana de Arte Moderna.



Organizadores da Semana de 22

Em 1920, os jovens paulistas descobrem as esculturas de Brecheret. Impregnadas de modernidade, constituirão uma das bandeiras da Semana, pois Brecheret fora contratado para realizar o Monumento às Bandeiras e ao apresentar às autoridades as maquetes da obra, tivera o trabalho recusado. Anos depois, o monumento seria erigido, tornando-se um símbolo de São Paulo e a escultura pública mais admirada no país.
Mas, naquele instante, o caso Brecheret fornece munição à rebeldia estética que germinava na capital paulista. Finalmente, em fevereiro de 1922, realiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna. O objetivo dos organizadores era acima de tudo a destruição das velhas formas artísticas na literatura, música e artes plásticas. Paralelamente, procuravam apresentar e afirmar os princípios da chamada arte moderna, ainda que eles mesmos estivessem confusos a respeito de seus projetos artísticos. A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico, fosse no campo político.

A REVOLUÇÃO PAULISTA



O período conhecido como "Era Vargas" foi caracterizado pela decadência do poder oligárquico e pela ascensão das elites urbanas ao poder. No entanto, as indefinições e ambiguidades que marcaram a formação do governo Vargas, reunindo elementos políticos e ideológicos diferentes, com interesses econômicos também diferentes, tiveram apenas um ponto em comum, retirar o poder das mãos da oligarquia cafeeira.
Essa situação de indefinição, onde a velha elite havia perdido o poder, mas a nova elite não o detinha efetivamente foi fundamental para que velhos adversários se unissem. As elites rural e urbanas de São Paulo, organizadas principalmente no velho PRP e no Partido Democrático.



Revolução de 32

A “Revolução Constitucionalista” é vista como um movimento de São Paulo contra o governo federal. Expressões como: “São Paulo ocupado”, “...o povo paulista” ou “São Paulo precisa de você...” são comuns naquele ano de 1932. Mas o que é São Paulo? Quem fala em nome de São Paulo? Existe uma São Paulo única, toda ela contra o governo Vargas ? Qual a proposta de São Paulo para a situação?
O único argumento que pode unir os diversos grupos paulista é “Constituição”
As Oligarquias do PRP, que haviam sido retiradas do poder em 1930 falam em Constituição, o Partido Democrático, refletindo o liberalismo empresarial urbano, fala em Constituição, setores intelectuais falam em Constituição. Todos defendem a mesma Constituição?
O Movimento teve o mérito de contestar o governo provisório, centralizador e autoritário, que dominava o país; no entanto, criou, estimulou e mantêm ainda hoje um sentimento bairrista, paulista, como se o “ser paulista” fosse algo superior em relação aos demais brasileiros, como se o “ser paulista” fosse algo único, com o grande objetivo constitucional, onde esse fosse o interesse primordial de todos.
Na verdade esse discurso procurou esconder, e em parte conseguiu, os objetivos específicos da nova elite estadual, representada pelo Partido Democrático, que por sua vez era a representação dos interesses de uma elite empresarial urbana que, com um discurso progressista atraiu boa parte das camadas médias, contando para isso com o primordial papel da imprensa, notadamente do jornal O Estado de São Paulo, dirigido por Júlio de Mesquita Filho, que ao mesmo tempo era um dos líderes do PD.
Durante todo o ano de 1932 organizou-se intensa propaganda contra o governo Vargas, que estimulou a organização de associações civis constitucionalistas, formada principalmente por estudantes e profissionais liberais, integrantes de uma camada média que repudiava a política ditatorial adotada. No entanto, essa camada não possuía organização política própria, ou mesmo um projeto político específico, para ela a luta seria contra a ditadura e a favor de uma Constituição.
Apesar de terem declarado a intenção de apoiar o movimento que nascia em São Paulo, os governos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul acabaram recuando. O único apoio veio do Mato Grosso.
Percebendo a dificil situação em que se encontrava, iniciou-se em São Paulo uma intensa campanha de alistamento voluntário, a 10 de julho, em diversos postos distribuídos pelo estado. Na Faculdade de Direito do largo São Francisco formou-se o Batalhão Universitário.
Ao mesmo tempo a FIESP comanda um esforço de guerra, a partir do qual muitas fábricas passam a produzir material bélico ou de campanha, criando inclusive uma Milícia Industrial.
As rádios paulistas são utilizadas como instrumentos de propaganda.
Considera-se que a derrota militar de São Paulo foi acompanhada por uma vitória política: Com a derrota da Revolução Constitucionalista, em 1932, seus principais líderes foram presos. Entre eles se encontrava Júlio de Mesquita Filho, enviado com seus companheiros para a Sala da Capela - nome dado um pequeno recinto na Casa de Correção, do Rio, reservado para os prisioneiros políticos provenientes de São Paulo. Pouco tempo depois, na noite de 30 de novembro de 1932, ele e outros 75 companheiros foram colocado a bordo do navio Pedro I e deportados para Portugal. a organização de eleições e a formação de uma Assembléia Constituinte, que porá fim ao governo provisório. No entanto, a legislação eleitoral havia sido elaborada em fevereiro de 1932, e um decreto de 15 de março do mesmo ano, portanto antes da revolução, marcou para 3 de maio de 1933 a eleição dos deputados. A Assembléia iniciou seus trabalhos em 15 de novembro de 1933, sendo que a maioria dos deputados eram varguistas. Pesquisar em
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