terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Uísque, amante e política

Alfredo Mota Menezes





ALFREDO DA MOTA MENEZES

Carlos Chagas é um jornalista conhecido e mora em Brasília há longos anos, conhece os bastidores da política nacional. Ele escreveu um artigo sobre um episódio da vida nacional que é uma bomba de alguns megatons. Aos fatos.

Carlos Lacerda, jornalista famoso e líder da UDN, era governador da Guanabara. Jânio Quadros era presidente da República. Os dois estavam se estranhando e um dia o presidente convida Lacerda para hospedar no Palácio do Alvorada, jantar com ele e no outro dia viajarem juntos para o Espírito Santo.

Era a conversa direta entre os dois líderes, aparariam arestas políticas. Lacerda, ao chegar ao Alvorada, foi informado pelo mordomo que ele não se hospedaria mais ali e sim no Hotel Nacional.

Lacerda era orgulhoso. Não esquecer que ele, indiretamente, acionou o gatilho para o suicídio de Getúlio Vargas. Era seu principal opositor, um orador das arábias e tinha uma caneta infernal. Sentiu-se ofendido com a atitude do Jânio.

Pedroso Horta era ministro da Justiça e, embriagado (acredita-se que estivera bebendo com o presidente), teve uma conversa esquentada com Lacerda à noite no hotel. No outro dia Lacerda volta para o Rio. O motivo para Lacerda não se hospedar no Palácio, segundo Chagas, se verdade, se aproxima do realismo fantástico da literatura de Gabriel Garcia Marques.

A esposa do Jânio, Eloá, tinha ido para São Paulo para o parto da filha. Jânio convida uma senhora da alta sociedade paulista, sua amante, para ficar aqueles dias com ele no Alvorada. Lacerda não poderia vê-la, claro. Daí
mandá-lo para o hotel.

Lacerda, ofendido pelo ato do presidente, começou a se movimentar politicamente no seu partido e entre alguns governadores, como Carvalho Pinto de São Paulo.

Lacerda foi para a imprensa e contou um fato que abalou a nação. Disse que o ministro da Justiça de Jânio, em nome do presidente, o convidara a participar de um golpe de estado. Ninguém sabe se o ministro o convidou mesmo ou se ele inventou o fato para atazanar a vida de Jânio, como fizera com Vargas.

O país virou de cabeça para baixo. Jânio queria dar um golpe? O Congresso Nacional cria uma CPI para analisar o fato. A UDN, que tinha enorme bancada, se preparou para o embate. Jânio renuncia e vai embora para a Europa.

A partir da renúncia, a história do Brasil teve um solavanco. João Goulart, seu vice, só assume a presidência com um parlamentarismo de ocasião imposto pelos militares.

Em 1964 há um golpe militar, tiram Goulart do governo e fica-se 21 anos em uma feroz ditadura militar. Se o Jânio fica até o fim de sue governo em 1964, na esteira seria Juscelino Kubistchek o novo presidente. E talvez possa ser afirmado que o Brasil não teria a ditadura.

Uísque, uma amante, um presidente problemático e um político orgulhoso e perito em derrubar presidente, mudaram a história do país.

Parece ou não com o realismo fantástico da literatura latino-americana?

ALFREDO DA MOTA MENEZES é articulista político e professor universitário em Cuiabá.
pox@terra.com.br


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