sexta-feira, 27 de abril de 2012

Conferência Ethos: Rio+20, um roteiro para ações futuras



Rio+20






Conferência Ethos: Rio+20, um roteiro para ações futuras





Em entrevista sobre o tema da Conferência Ethos 2012, o economista Ignacy Sachs diz que o consenso, na Rio+20, não é “fundamental nem o esperado”.









Ignacy Sachs





Por Denise Ribeiro - Instituto Ethos

A Conferência Ethos Internacional 2012, que se realizará entre os dias 11 e 13 de junho, em São Paulo, com foco na Rio+20, está sendo construída em parceria com 36 entidades, que representam trabalhadores, empresários e organizações não governamentais, além dos setores público e acadêmico. A diversidade de opiniões na Conferência será expressa também pelos palestrantes, que, como os parceiros do evento, serão entrevistados pelo Notícias da Semana. Desta vez, abrimos espaço para o economista polonês, naturalizado francês e especialista em Brasil, Ignacy Sachs. Um dos maiores expoentes na discussão da sustentabilidade, foi ele quem formulou, em 1972, o conceito de ecodesenvolvimento – mais tarde rebatizado pela ONU de desenvolvimento sustentável.



Consultor de vários governos – incluindo o brasileiro – e de organismos internacionais, Ignacy Sachs dedica-se há mais de 40 anos à pesquisa sobre as dinâmicas das economias dos países em desenvolvimento. É, também, professor emérito da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais, em Paris, onde criou o Centro de Pesquisas do Brasil Contemporâneo.



Para fazer sua inscrição na Conferência Ethos Internacional 2012, clique aqui.



O papel da Rio+20 será o de deflagrar e organizar processos, que gerem planos de governos para os países implementarem mais adiante. O consenso em torno de propostas não é fundamental nem esperado. A avaliação é do economista Ignacy Sachs, para quem a Rio+20 deve ser uma conferência de itinerário, um road map, um ponto de ordenação de agendas. “Os países-membros das Nações Unidas devem sair de lá comprometidos a trazer, num prazo de no máximo cinco anos, seus planos de desenvolvimento socialmente inclusivos e ambientalmente sustentáveis”, prevê.



Segundo Ignacy Sachs, estamos vivendo uma época em que é difícil considerar que as negociações para definir essa estratégia mundial de longo prazo fiquem só por conta dos governos. “Precisamos de uma mobilização de todos os setores da sociedade e o Instituto Ethos faz essa ponte fundamental entre Estado, empresários e sociedade civil. Boas soluções terão de vir da confluência desses três setores. Organizações como o Instituto Ethos têm mais liberdade para discutir idéias novas do que o governo, cuja capacidade de agir é razoavelmente limitada por uma série de razões. Cito três delas: os governos têm de atender a compromissos políticos, têm de pensar na agenda das eleições e de se preocupar em como articular o poder federal com os estaduais”, exemplifica.



Para reforçar a relevância da Rio+20, o professor destaca o “momento histórico” em que ela acontece, coincidindo com os 300 anos de nascimento do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau e com os 250 anos de lançamento de sua famosa obra Contrato Social: “Nele, Rousseau afirma o quanto é fundamental as diferentes forças vivas de uma sociedade poderem se sentar em torno de uma mesa e chegar a um contrato em que os direitos e os deveres das partes envolvidas estão razoavelmente definidos”.



Ignacy Sachs ressalta que a abrangência desse contrato não pode se limitar ao tempo presente. “Não podemos dizer: ‘Depois de nós o dilúvio’. Temos a obrigação de pensar no futuro da nave espacial Terra. Nosso compromisso ético não se refere apenas às gerações presentes. Devemos, por todos os meios, evitar a apropriação predatória dos recursos naturais. Temos de legar um planeta em condições de produzir uma vida digna às gerações futuras”, afirma.



Compromisso social



O brasilianista rejeita o termo “economia verde”, porque enxerga na base do conceito um equívoco: o de se tentar alcançar um tipo de desenvolvimento que proteja o capital da natureza. Na opinião dele “esverdear” o capitalismo selvagem não vai resolver os gigantescos problemas que temos de enfrentar. A estratégia correta seria explicitar os objetivos sociais necessários para que os 9 bilhões de pessoas previstos para habitar o planeta em 2050 vivam com dignidade. “Objetivamente isso significa assegurar oportunidade de trabalho decente para todos, segurança alimentar e segurança energética. Todas as estratégias de desenvolvimento devem se pautar pela diminuição das diferenças abissais de condições de vida existentes”, esclarece.



Na opinião de Sachs, o desafio que temos pela frente é fazer a economia caminhar equilibrada sobre “dois pés”: o social e o ambiental. “Em nome da habitabilidade do planeta, não podemos empurrar os objetivos sociais para debaixo do tapete. Também não se pode sacrificar o aspecto ambiental no altar do social”, contrapõe.



Para chegar ao modelo de desenvolvimento almejado, o primeiro passo é o planejamento. "Temos de reaprender a planejar se quisermos ter países socialmente includentes e ambientalmente sustentáveis. Acredito mais no planejamento do que no jogo irrestrito de mercado, porque o mercado tem vista curta e pele grossa. O planejamento nasceu com o ábaco e hoje temos computadores – é preciso que os computadores estejam nas mãos daqueles que propõem o diálogo social quadripartite, entre Estados nacionais desenvolvimentistas, empresários, trabalhadores e a sociedade civil organizada”, explicita.



Por isso, na visão de Sachs, todos os atores sociais, presentes ou não na Rio+20, devem colaborar com a elaboração dos planos nacionais de desenvolvimento: “Os países devem adotar, em suas metodologias, medidas que tratem de temas vitais, como a pegada ecológica e a geração de oportunidades de trabalho decente".



Um fundo da ONU



A etapa seguinte à Rio+20, no entender do economista, será encontrar a sinergia entre os planos nacionais e meios de impulsioná-los. “Todos os países colocam suas propostas na mesa e as Nações Unidas entram com dois instrumentos essenciais para compatibilizar e articular esses planos: a implementação de um fundo de desenvolvimento e a criação de redes de cooperação científicas e técnicas pautadas pela geografia de biomas”, argumenta.



O economista propõe que as Nações Unidas aperfeiçoem suas ferramentas institucionais para as tarefas de potencializar e de financiar as propostas nacionais. “Sem dinheiro não se chega a parte alguma. Por isso espero que a ONU se movimente para a criação de um grande fundo há muitos anos postulado e nunca realizado”, diz.



Para Sachs, esse fundo de desenvolvimento, alimentado, principalmente, com a doação de 1% do PIB dos países ricos, é vital para alavancar a nova economia. Ele sugere, ainda, a criação de outras três fontes de recursos para o financiamento desse fundo: uma taxa sobre emissão de carbono; um imposto sobre transações financeiras (conhecida como taxa Tobin); e um pedágio pelo uso de oceanos e ares. "Desde 1972 defendo esse tipo de imposto. Seria um percentual mínimo sobre passagens e fretes aéreos e marítimos, fácil de ser implementado e que considero justo para quem utiliza o patrimônio comum da humanidade”, argumenta o professor.



Ele também acredita que boas soluções ambientais surgirão das redes de cooperação científicas e técnicas pautadas pela “geografia de biomas”. Ou seja: florestas tropicais de todo o mundo conversarão entre si, bem como regiões do semiárido e assim por diante. “Temos de empreender um grande esforço e também reformular o formato, o nome e a função de várias comissões das Nações Unidas, para que elas passem a atuar dentro dessa nova visão geográfica”, diz Sachs.



Ele cita como exemplo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que abrange os interesses econômicos de países que vão da Amazônia à Patagônia. “Mas não temos uma comissão de cooperação que trate das similaridades entre as bacias do Congo e da Amazônia, por exemplo. Para criar programas sobre o melhor aproveitamento dos recursos renováveis de cada bioma, é necessário atuar dentro de outra lógica institucional”, defende.



Além de repensar como diferentes agendas das Nações Unidas podem ser reorientadas, Ignacy Sachs chama a atenção para um tema que começa a ganhar corpo entre pensadores do desenvolvimento sustentável: a interface terra-água. “Trata-se de uma questão estratégica para países como o Brasil, com seu vasto litoral e sua grande quantidade de rios, bacias, lagos e represas. O país pode se tornar um parceiro fundamental, em nível internacional, na produção de proteína animal a partir de sistemas sustentáveis gerados na interface terra-água.”



Conferência Ethos 2012



A Conferência Ethos 2012 vai se realizar de 11 a 13 de junho, no Hotel Transamérica, em São Paulo, e o tema será “A empresa e a nova economia: o que muda com a Rio+20”. Serão analisados em profundidade os temas que vão ser objetos de negociação na Rio+20. As discussões vão desenhar cenários para verificar o impacto do que poderá ser decidido – e também do que não for decidido – no mercado e na vida das pessoas.



Haverá também o aprofundamento das reflexões sobre os temas estruturantes da nova economia e o aperfeiçoamento das propostas de mecanismos que ajudem a internalizar as premissas do desenvolvimento sustentável na economia e na política. As atividades programadas são: duas plenárias, um seminário, cinco mesas-redondas, catorze painéis e cinco oficinas de gestão. Todas essas atividades contarão com a presença de alguns dos mais importantes nomes do desenvolvimento sustentável.













Instituto Ethos/EcoAgência







































































































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Manoel Messias Pereira

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