terça-feira, 24 de abril de 2012

Em Sorocaba, Nana Vasconcelos no Projeto Guri



"Calungá" com NanáAlunos do Grupo de Referência do Projeto Guri em Sorocaba tem um professor pra lá de especial: Naná Vasconcelos, que irá ensinar aos garotos a musicalidade africana



O encontro de Naná Vasconcelos com os alunos do Grupo de Referência do Projeto Guri de Sorocaba aconteceu na última semana - Por: Erick Pinheiro




Andrea Alves

andrea.alves@jcruzeiro.com.br



"A música vai do silêncio ao grito. É imediata porque fala às emoções". A frase é do percussionista conhecido mundialmente, Naná Vasconcelos, que tem propriedade em música que se faz com o corpo e com alma e, por isso, entendeu a importância que é participar de um espetáculo onde os artistas em cena são crianças e jovens. Naná Vasconcelos vai emprestar sua experiência com pessoas, instrumentos de percussão e músicas africanas durante os ensaios e apresentações de um evento criado especialmente para os alunos do Grupo de Referência do Polo do Guri em Sorocaba. "Calungá", nome que entre alguns significados quer dizer travessia por mar, é um espetáculo cênico-musical elaborado a partir do disco de 1982 "Canto dos Escravos", em que Clementina de Jesus, Tia Doca e Geraldo Filme interpretam cantigas ancestrais dos negros de São João da Chapada, em Minas Gerais. O que torna o evento especial, disse o percussionista de 77 anos, é a possibilidade de promover uma das coisas que a música faz de melhor: a educação. "Calungá" será encenada no dia 27 de junho em Santos, dia 29 de junho em Sorocaba, no Teatro Municipal Teotônio Vilela, dia 1 de julho em São José dos Campos, e 13 de julho no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, todos os eventos com entrada gratuita. Até lá, alunos, diretores e percussionistas vão participar juntos do processo criativo da encenação.



O Grupo de Referência, criado para estimular e intensificar a formação musical e a qualificação dos alunos, reúne estudantes de desempenho artístico mais avançado do Projeto Guri, selecionados por meio de testes. Ao todo, são 39 guris, de 8 a 19 anos, integrantes dos polos de Sorocaba, Piedade, Cerquilho, Salto, Itu, Botucatu, Conchas, Guareí, Pilar do Sul, São Roque e Ibiúna. O grupo tem o coro e a percussão como especialidade musical e se reunirá para ensaios no polo sede da sua região, em Sorocaba. Mariana Furquim, assessora de projetos especiais e coordenadora executiva do projeto "Calungá", conta que a ideia de trabalhar um espetáculo com os guris da cidade surgiu no ano passado. Na época, eles pretendiam celebrar o Dia da Consciência Negra, mas o pouco tempo que faltava para a data inviabilizou o projeto. "Esse ano retomamos a ideia e pensamos em trabalhar com o grupo de referência de Sorocaba por conta dessa especialização em percussão. O primeiro nome que veio veio à cabeça para participar do projeto como convidado foi o de Naná Vasconcelos, que prontamente aceitou o convite."



"Calungá" toma como base o álbum "Canto dos Escravos", mas o repertório contará também com canções de Naná Vasconcelos para contar parte da história dos africanos que chegaram ao Brasil. A primeira cena prende pela emoção ao apresentar um coral de crianças e jovens, em movimentos corporais fluidos, embalados por percussão, com a participação de Naná, que consegue transportar o público para o alto mar, palco da travessia dos africanos para o Brasil. Para Chico Saraiva, diretor artístico da Associação Amigos do Projeto Guri (Amigos do Guri) e idealizador do espetáculo "Calungá", o intuito é mostrar que o mesmo mar que separa, une. "Muitos povos africanos se conheceram aqui no Brasil e a cultura de cada grupo, de cada etnia, fez surgir uma nova cultura brasileira", observa o diretor. Naná Vasconcelos, que já fez viagens para a África e já trouxe crianças africanas para cantar em Brasília, diz que os próprios africanos não encontram em seus países referências dos negros brasileiros. "Alguns instrumentos da música africana existem aqui e não existem lá", diz o percussionista.



Para ampliar o conhecimentos dos participantes sobre a cultura africana no Brasil, a fim de valorizar o próprio espetáculo, as crianças participaram de uma imersão fazendo pesquisas e visitas ao Museu Africano de São Paulo. "Eles precisam entender que uma música de lamento não pode ser dançada ou cantada dando pulos de alegria", exemplifica Naná. Em posse do conhecimento, todo o processo criativo é feito, em parte, na presença do alunos, abrindo margem para que seja também democrático. Todos podem dar sugestões sobre os arranjos, comenta Chico e Naná.



"O primeiro instrumento musical que aprendi a usar foi meu corpo"

O encontro de Naná Vasconcelos com os alunos do Grupo de Referência do Projeto Guri de Sorocaba aconteceu na última semana, com os primeiros ensaios. "Agora eles procuram as pessoas na internet e muitos chegam para mim querendo mostrar que sabem quem eu sou, puxando conversa sobre algum trabalho. É muito divertido", diz Naná rindo e deixando transparecer o bom humor e o prazer de trabalhar com crianças e jovens. "Eu brinco com eles, a gente se diverte, mas é um trabalho sério e estou aqui para ensinar a eles responsabilidade. Eu mesmo fui uma criança pobre e o primeiro instrumento musical que aprendi a usar foi meu corpo. Tocava com meu corpo antes de tocar em copos, bacias e penicos." O percussionista, ao lembrar que já trabalhou com educação pela música na França, diz que sua música não é dissociada de educação. Foi essa possibilidade aliás de promover a educação, que tornou atraente o convite para participar de "Calungá", além, é claro, do espetáculo buscar a valorização da cultura negra. "Fui atraído pela chance de aprender. Tenho um aprendizado incrível de vida com eles."



Assim como eles tem com o percussionista. "Em uma semana com Naná Vasconcelos aprendi muito como artista e como pessoa", diz o adolescente de 16 anos, Gustavo Muniz, estudante de canto-coral no Guri e que sonha em ser ator de teatro. "Aprendi que não é necessário ter panca de convencido. Ele é um artista famoso, experiente e se dá bem com todos, é muito humilde. Gostei disso." Sabrina Ferreira da Silva, 16, que teve a sorte de entrar no Guri esse ano e já ser selecionada para o Grupo de Referência, aprendeu a arte de mexer o corpo e arte de conviver com as pessoas. "Eu era muito dura e aprendi a ter gingado. Também aprendi a ter amigos e isso tudo aqui pra mim quer dizer alegria." Até mesmo a guria de 9 anos, Garbila Lauana Bizutti, que desde os 5 anos frequenta os cursos de canto-coral e flauta doce e transversal do Projeto Guri, sabe dizer o que conseguiu aprender ao se dedicar para a música em grupo: "Aprendemos a trabalhar juntos, em harmonia".



Guris unidos pelo prazer de aprender música

O Projeto Guri é um programa sociocultural brasileiro e funciona hoje como a base da formação musical do Estado de São Paulo. São milhares de guris, centenas de polos e 16 anos de um trabalho que tem na música seu instrumento de transformação. Iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, é administrado por duas organizações sociais ligadas à Secretaria de Estado da Cultura. Os mais de 360 polos distribuídos pelo interior e litoral do Estado, com mais de 40 mil guris, são dirigidos pela Amigos do Guri, enquanto a gestão das unidades da Capital, com 18 mil guris, em 48 polos, é realizada pela Santa Marcelina Organização Social de Cultura. A gestão compartilhada do Projeto Guri atende a uma resolução da Secretaria que regulamenta parcerias entre o governo e pessoas jurídicas de direito privado para ações na área cultural. Os alunos fazem cursos de iniciação musical, coral, instrumentos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas, sopro, teclados e percussão.



Os Grupos de Referência foram criados para estimular e intensificar a formação musical e a qualificação dos alunos do Projeto Guri. Com mais de 1.900 inscrições em todo o Estado, foram selecionados 310 guris e ex-guris de 12 regiões de São Paulo, que formarão 12 grupos divididos em oito especialidades musicais. O grupo tem o coro e a percussão como especialidade musical e se reunirá para ensaios no polo sede da sua região, em Sorocaba. Para saber mais: www.projetoguri.org.br .



Jornal Cruzeiro do Sul © Direitos Reservados






Jornal Cruzeiro do Sul



Fundação Ubaldino do Amaral - www.fua.org.brColégio Politécnico - www.poli-sorocaba.org.brCruzeiro FM - www.cruzeirofm.com.brProjeto Memória - memoria.cruzeirodosul.inf.brFiliado a Associação Nacional de JornaisFiliado a Associação Paulista de Jornais

Nenhum comentário:

Postar um comentário

opinião e a liberdade de expressão

Manoel Messias Pereira

Manoel Messias Pereira
perfil

Pesquisar este blog

Seguidores

Arquivo do blog