Jornal O Pais
Luanda
Música
Passagem pelos Kimbambas do ritmo
O conjunto Nzaji, a aclamada banda musical angolana, agora em livro, teve o comando de José Eduardo Dos Santos, actual Presidente de Angola. O livro inclui análises de carácter antropológico e sociológico sobre o papel do canto, da música na mobilização das massas oprimidas, em diferentes contextos de dominação colonial, regimes de segregação racial, entre outros temas. Elogiado pelo ministro congolês da Cultura, Jean Claude Gakosso, no prefácio das actas da sexta edição do Simpósio de Música Africana, uma das declinações do FESPAM, o referido volume é uma compilação que acabou de ser publicada em Brazzaville.
O título da obra retoma o tema do encontro, que tinha uma forte tonalidade, do chamado terceiromundismo: “músicas de emancipação e movimentos de libertação em África e na Diáspora”. Unânime, o historiador angolano Simão Souindoula, perito da UNESCO e membro do Comité Cientifico deste Festival, realçou na ocasião, que um dos programas culturais da União Africana, contribui, nela, com um estudo intitulado “Etu tu’ Ana Angola ou a música angolana de exílio na Voz da Revolução Congolesa”.
Este repertório de preciosa cantilena patriótica, tinha sido produzido, no início dos anos 70, pelo Conjunto Nzaji, cuja alma foi o jovem José Eduardo Dos Santos, hoje Presidente da República.
A obra com 337 páginas, retoma a vintena de exposições apresentada durante os trabalhos do encontro e inclui textos reunidos por Honore Mobonda, Director Cientifico do Festival, supervisionado por um Conselho Científico. Destacaram-se ainda experimentadas figuras de renome como Gihad Sami Daoud, do Conservatório da Universidade do Cairo, Tomas Olivera Chirimini do Conjunto Bantu de Montevideo, Charles Nyakiti Orawo da Universidade Kenyatta de Nairobi e Tandile Mandela da Universidade de Fort Hare, da África do sul, sobrinha do então Presidente Nelson Mandela.
Tais subsídios estão reagrupados em quatro articulações principais e estabelecem ligações entre a construção musical, e respectivamente, as esperanças messiânicas, as lutas políticas, a construção da consciência nacional e a educação dos direitos humanos. Apresentam-se, aí, análises de carácter antropológico e sociológico sobre o papel do canto, da música na mobilização das massas oprimidas, em diferentes contextos de dominação colonial ou de regimes de segregação racial.
As apreciações, segundo o perito, foram feitas sobre influência das diversas expressões musicais surgidas no inicio do século XIX, ajudadas, nisto, pela acumulação das irreversíveis consequências das duas Guerras Mundiais, no reforço da coesão social nos países africanos, caribenhos, latino-americanos e norte-americanos, na afirmação das identidades das populações dessas regiões, na revindicação dos seus direitos e na luta para a sua emancipação e independência.
Enquanto isso, os ângulos de exame, foram postos em relevo sobre, entre outros aspectos, os efeitos, nas mudanças da situação histórica dos povos oprimidos, da música de sensibilidade religiosa, humanista ou cívica assim que como a de manifestação abertamente politica que visava a construção das novas consciências nacionais. A publicação conta com assinatura do aplicado Saint Eudes Nfumu Fylla, do historiador de Bayardelle, Joachim Emmanuel Goma–Thethet, do incontornável crítico literário Antoine Yila, da activa afro-washingtoniana Sheila S. Walker, do escritor e crítico literário angolano, Jorge Macedo.
Integram a lista, Gaspar Agostinho Neto, da Escola de Música de Luanda, Elisabetta Maino, da Escola dos Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, o etnomusicólogo argentino, Norberto Pablo Cirio, de Sie Hien, da martirizada Universidade de Abidjan, o escritor lumumbista Yoka Lye Mudaba e Emmanuel Daho, sociólogo da Universidade Marien Ngouabi.
Este é segundo o historiador, um dos pontos de investigação, essencial, das comunicações nos dois primeiros blocos temáticos, e a utilização, biblicamente astuta, da expressividade musical cristã na resistência contra o aperto esclavagista e a aferrolharagem colonial, em África e no Novo Mundo. “Não podia ser de outra maneira, tendo, as vítimas desses sistemas económicos, mortíferos, de ter, activamente, consciência das balizas do seu próprio humanismo e do saído do mundo judeo-cristã”, realçou o académico.
21 de Março de 20121
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