domingo, 8 de janeiro de 2012

Parábola

O Criador ordenou: "Faça-se luz".
E cegou Borges.

Quando Orso Cremonesi se revoltou,
também por isso
(estava na Capela da Catedral
de Santana Velha,
e compunha arrependimento para
[um poema artesiano),
teve uma visão.

Sacrilégio.
O vento varou os virtrais
para secar a pia e apagar as velas.
Apareceram cinzas pela nave
e outros sortilégios.

Ao sair do tunel
Borges viu a cegueira
Diante dos fiéis
(de algum modo cegos)
arrastando sob abóbada
a majestade exausta,
o manto perene de dobras e farsa,
a paraplégica eternidade
e a mão inclemente
(a contrição e o transe de Cremonesi no
genuflexório),
o Criador lacerrou-o não com a sarça,
mas com a verdade ardente:

"Pecador. Poeta infame. Impuro
Lembre-se de Homero. Os heróis
só são possíveis no escuro."




Mafra Carboniéri

poeta
(livro A lira de Orso Cremonesi)

São Paulo-SP - Brasil

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Manoel Messias Pereira

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