África do Sul
Seis mil convidados para centenário do ANC
Bloemfontein - Seis mil convidados, incluindo algumas dezenas de chefes de Estado e de governo, e cem mil participantes locais vão comemorar, no fim de semana em Bloemfontein, o centenário da fundação do ANC, partido no poder na África do Sul.
As festividades, que vão decorrer um pouco por toda a província de Free State - que tem Bloemfontein como principal cidade -, incluem concertos, comícios, cerimónias religiosas tradicionais, um torneio de golfe e um jantar de gala.
A festa serve também para celebrar um processo de libertação e democratização conduzido de forma exemplar pelo Congresso Nacional Africano (ANC).
Foi numa pequena igreja da cidade que foi fundado a 08 de Janeiro de 1912 o Congresso Nativo Africano, o primeiro movimento de libertação de África, continente que entretanto vivia sob o jugo do colonialismo, ou, no caso sul-africano, sob um misto de pós -colonialismo e regra da minoria branca dos colonos holandeses, huguenotes e britânicos.
No domingo, o actual presidente do ANC e da África do Sul, Jacob Zuma, vai homenagear líderes como Nelson Mandela, Albert Luthuli, Oliver Tambo, entre outros, que fizeram do ANC um pilar da democracia, da liberdade, do multirracialismo e do humanismo, quer durante o período de resistência ao «apartheid», quer após as primeiras eleições livres de 1994, que conduziram ao poder o partido centenário.
Os muitos êxitos do ANC, na oposição e no poder, não conseguem disfarçar os vários desafios e problemas actuais, que passam por profundas divisões internas, corrupção a todos os níveis da estrutura, cedências aos valores democráticos e indefinição do rumo político e económico.
As fissuras mais visíveis na estrutura dirigente começaram a notar-se em 2008, quando Thabo Mbeki foi forçado pelos colegas da liderança a demitir-se da presidência da República após perder as eleições internas para a liderança partidária.
A queda de Mbeki gerou várias deserções e a criação de um partido dissidente, o COPE (Congresso do Povo), primeiro sinal de alarme embora apenas de "nível amarelo", na estrutura.
Desde então, Zuma tem lutado para manter a unidade e a coesão do aparelho partidário, constantemente ameaçadas por aqueles que exigem dele mais favores e benefícios em troca do apoio que lhe deram na eleição de 2008 para a presidência do partido.
O radical Julius Malema, líder da ala jovem do ANC, suspenso das funções por três anos, na sequência de um processo disciplinar, foi o que mais se destacou na desestabilização do movimento nos últimos quatro anos.
As boas relações do ANC com regimes e dirigentes mundiais como o líbio Muammar Kadhafi (morto a 20 de Outubro), Robert Mugabe (Zimbabwe) ou Mahmud Ahmadinejad (Irão), sob o pretexto do apoio que lhe foi prestado durante a luta anti -"apartheid" ou das boas relações bilaterais, económicas e políticas, têm motivado, desde 1994, críticas severas de personalidades e instituições à elite dirigente da África do Sul.
A recente recusa de um visto de entrada no país ao líder espiritual tibetano Dalai-lama, por óbvia pressão de Pequim, com quem Pretória está a incrementar relações comerciais, suscitou forte reacção da oposição e de personalidades, como o arcebispo Desmod Tutu, contra o governo do ANC.
E para analistas, activistas e líderes cívicos, religiosos e políticos do país, a aprovação no parlamento de um projecto-lei que sujeita jornalistas e denunciantes a penas de prisão até 25 anos pela divulgação de matéria sensível sobre detentores de cargos públicos foi outro sinal claro, em 2011, de que o partido no poder está disposto a alienar os valores defendidos por Mandela, Tambo e Luthuli com o mero objectivo de se manter no poder durante muitos mais anos.
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